Eles estão na Praça da Sé, em São Paulo, mergulhando nas fontes da Glória, no Rio de Janeiro, e nos sinais de trânsito de Brasília. Estão em todos os lugares, como se fossem onipresentes, a estampar seu uniforme: roupas encardidas, literalmente descamisadas, brincando em volta de uma árvore, adormecidos em um banco de praça.
Esse é o retrato de um Brasil que luta para chegar ao Primeiro Mundo.
Com a crescente preocupação dos organismos internacionais, o Brasil viu-se na liderança dos países com a mais cruel estatística, aquela que aponta para o imenso número de menores exterminados, os meninos de rua que, sem cerimônia, nos oferecem a verdadeira realidade brasileira: miséria e fome, ante-sala nacional da delinqüência. O drama dos menores abandonados é uma ponta do nosso iceberg social.
São cerca de 4.000 crianças de rua assassinados por ano no Brasil. A angústia de nossos "meninos do Brasil" foi bem sintetizada nesses versos de Ângela Diniz Dumont Teixeira: "Sou cidadão de que país?/ Sou herói de qual história? / Que bandidos terão roubado meu direito de viver minha vida de menino?". Enquanto não olharmos o rosto de um menino de rua como se fosse o rosto de um filho nosso, continuaremos a assistir uma tragédia que mata diariamente um pouco do Brasil.
Recente pesquisa do governo federal sobre moradores de rua no Brasil apontou para os seguintes números: 20.000 pessoas moram nas ruas em 17 capitais. Nesse número não estão incluídos os desabrigados do Rio de Janeiro de outras 9 capitais brasileiras. Somente na capital paulista, 10 mil pessoas vivem ao relento. A pacata Niterói tem 0,3% de sua população vivendo a céu aberto. São 1.300 desabrigados. Outros dados nos fazem aprofundar a questão. Desses desvalidos, 85% são homens, a idade média é de 37 anos, sendo que 40% vivem de caridade.
Um país com tantos recursos naturais, blindado - até hoje - contra terremotos e furacões e com um povo sempre visto como solidário, certamente que não deveria conviver com números dessa magnitude. Pra variar, o grande vilão continua sendo a perversa má distribuição de renda que temos. Ter abrigo, antes de ser um direito humano, é também um direito dos bichos, dos animais. Voltaremos ao assunto.
Adital
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