Há um mal-estar inegável dentro e fora do Governo referente à opção macroeconômica assumida pelo Presidente Lula. Confrontam-se dois olhares conflitantes, cada qual com sua lógica e seu discurso coerente. Um olhar se fixa na economia e aduz os seguintes fatos:
após severa política fiscal, está ocorrendo inegável crescimento econômico, control e sobre a inflação e o dolar, queda da relação PIB-dívida, pagamento sustentado da dívida, boa balança comercial e aumento de empregos.
O outro olhar enfoca a sociedade e traz à tona os dados do Relatório dos Direitos Humanos no Brasil 2004 que são assustadores. Quase todos os itens negativos ou se mantiveram ou pioraram: degradação do ganho real dos salários, violência no campo e na cidade, trabalho escravo, demora na demarcação de áreas indígenas, morosidade na reforma agrária e desmobilização política dos movimentos.
A análise crítica tem mostrado que a crise social é, em parte, o preço a ser pago pelo sucesso econômico. Mas que adianta crescimento econômico sem desenvolvimento social? Os ganhos da economia não são repassados na forma de benefícios sociais para as grandes maiorias empobrecidas e excluidas. Quem ganhava, ganha agora muito mais.
Não houve a mudança necessária e prometida. Quantos esperávamos que um filho do caos social, sobrevivente da tribulação histórica dos humilhados e ofendidos de nosso povo, instaurasse a viragem libertadora. Ele se elegeu com essa bandeira.
E ao chegar lá, trocou de agenda. As elites nacionais e mundiais conseguiram trazê-lo para a sua lógica, para o modelo econômico neoliberal dominante. Quem aceita entrar por aquela porta está perdido. Em seu frontal bem poderia estar a frase que Dante colocou na entrada do inferno: "Lasciate ogni speranza voi ch¹intrate"(percam a esperança, vocês que aqui entram). Ai só contam os interesses do capital.E ele que representava os trabalhdores.
O que sinceramente esperávamos? Que ele com o cacife que tinha por causa de sua história de vida e pela novidade do PT pudesse dar início à superação do neoliberalismo mediante uma renegociação com o FMI acerca das formas de saldarmos nossa dívida externa. Esperávamos que submetesse as elites dominantes e argentárias à lógica de políticas sociais para que começassem a pagar a dívida social secular que elas têm para com o povo.
Pouco disso ocorreu. Foi vítima da política velhista das elites que o saudoso historiador José Honório Rodrigues bem descreveu: "elas buscam sempre a conciliação entre elas mesmas para não conceder nada ao povo".
Estamos tristes por nós mesmos: ou porque fomos ingênuos, ou porque não acumulamos força suficiente para impôr rumos novos ao pais ou porque ainda não conseguimos criar um líder que tivesse a coragem para esta mudanza inovadora.
Confio ainda na pessoa de Lula. Ele é bom e jamais trairia seus sonhos. Infelizmente escolheu gente e meios inadequados para realizar aqueles sonhos. Mas é carismático e pode mudar desde que entenda aquilo que sempre pregou:o capitalismo é só bom para o capitalista, nunca para o trabalhador. Este precisa de outro tipo de economia onde ele não é apenas beneficiário mas também ator.
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