O governo do Brasil teme um ataque terrorista contra o sistema de 120 plataformas de exploração de petróleo na bacia marítima. Os recursos de defesa são limitados. A apreensão cresceu nos últimos três meses, depois que a Inteligência americana acolheu e distribuiu um cenário produzido por especialistas do Scowcroft Group, a consultoria de risco internacional da Casa Branca, considerando as unidades de extração de óleo cru do fundo do mar "um alvo de primeira linha para o terror". O documento destaca que "a indústria do petróleo é globalizada e interdependente - o prejuízo de um sempre é sentido por todos os integrantes do setor".

Nesta semana, entre os dias 16 e 18, a Marinha começa a testar o aparato de defesa das estações a serviço da Petrobras por meio de uma sofisticada operação de treinamento: dez homens da mais secreta unidade militar brasileira, o Grupamento de Mergulhadores de Combate (Grumec) vão ensaiar o resgate de uma plataforma supostamente atacada - e ocupada - por terroristas internacionais.

O time de operações especiais da Marinha será transportado por um ou dois helicópteros Super Puma até um ponto no mar, ao largo do litoral do Rio, entre as cidades de Macaé e Arraial do Cabo. No local determinado, poderão fazer um salto crítico, a baixa altura e alta velocidade, usando pára-quedas especiais. Ou descerão por meio de cabos até o local de encontro, onde estará à espera da equipe um submarino da classe Tupy.

Os homens do Grumec são preparados para entrar e sair do navio submerso. A bordo, encontrarão o equipamento necessário à missão - armas, botes infláveis, comunicadores, explosivos, recursos eletrônicos de escuta e observação.

O submarino vai lançar e recolher os dez comandos nas proximidades da plataforma envolvida na simulação. Isso é feito sob a água, com os combatentes deixando a embarcação por meio de um dos tubos de disparo de torpedos, ou na superfície, dependendo das condições de risco.
As instalações de retirada de petróleo mais distantes - eventualmente mais vulneráveis a um ataque - são a P-38 e a P-40, em operação a quase 200 quilômetros da costa.

Haverá uma pequena força-tarefa, envolvendo embarcações de diversos tipos, helicópteros e aviões eletrônicos, incumbidos de fazer a escuta e a vigilância, sobrevoando a área.

Os mergulhadores do Grumec são o equivalente brasileiro aos comandos Seal, da Marinha dos Estados Unidos, responsáveis por missões raramente divulgadas. No formato atual, o grupo foi criado em março de 1998 e está subordinada ao Comando da Força de Submarinos.

Todos os candidato são voluntários. O curso de preparação dura 18 meses. Nesse ano e meio, o contingente é levado a seus limites físico e psicológico. Pouco mais de 30% dos que iniciam o ciclo chegam até o final.

Todos são mergulhadores especializados, pára-quedistas, peritos no manuseio de explosivos, bem treinados combatentes em artes marciais e com lâminas, atiradores de precisão, especialistas em sobrevivência, sabotagem e técnicas letais de eliminação do inimigo.
Depois de concluído o período básico, os militares do Grumec passam pela instrução dedicada, da qual saem adestrados para missões de inteligência, escalada de combate, desativação de bombas, resgate de reféns e salto livre.

Os mergulhadores não podem ser fotografados nem identificados. A Marinha mantém em sigilo o tamanho do quadro de pessoal do Grumec. De acordo com um dos instrutores, "as armas que o time usa são os fuzis e pistolas padrão - a principal arma de um mergulhador de combate é ele mesmo".

Território

O Brasil tem agora 8.500 quilômetros de litoral e 4,5 milhões de quilômetros quadrados de plataforma continental oceânica, o equivalente a pouco mais da metade da extensão territorial de todo o País. Nessa área estão armazenadas acima de 90% das reservas conhecidas de petróleo e gás, além de jazidas minerais de uso estratégico. Os estoques pesqueiros podem chegar a 1,5 milhão de toneladas por ano.
A frota atual de defesa é formada por 28 navios que operam com apoio de 20 aviões Emb-111 Bandeirulha, da Força Aérea Brasileira (FAB). Esse conjunto pode ser reforçado por helicópteros pesados torpedeiros do tipo Super Puma, combinados com os Lynx, de ataque leve e com os submarinos Tupy.

Na costa, o armamento são mísseis antinavio e foguetes de saturação de área do sistema nacional Astros-II. Uma nova rede de captação de dados de satélite, radares e sensores de de proteção está sendo estudada pelo Ministério da Defesa desde junho de 2002.