Partidos conservadores do México, apoiados pela Casa Branca, tentarão nesta semana cassar no Congresso a imunidade do governador do Distrito Federal, Andrés Manuel Lopez Obrador, favorito para triunfar nas eleições presidenciais de julho de 2006.
Cuahutemoc Cardenas ganhou as eleições presidenciais no México, em 1988, mas sua vitória foi roubada, o povo mexicano teve sua vontade soberana desrespeitada e quem acabou tomando posse foi Carlos Salinas de Gortari. A confissão é de Miguel de la Madrid, presidente na época e membro do mesmo partido de Gortari, o PRI, em um livro de memórias, publicado recentemente no México.
Madrid diz que não se podia perder o governo justamente quando iriam ser implementadas as políticas neoliberais e promovidas a participação do México no Nafta - o Acordo de Livre-comércio da América do Norte. A história do México - e, de alguma forma, da América Latina - teria sido outra, se esse atropelo não tivesse sido cometido.
Desta vez as elites oligárquicas mexicanas não querem passar pela mesma situação e pretendem roubar do povo o direito soberano de decidir sobre seus destinos, antes mesmo das eleições. Para isso, os dois partidos tradicionais - o PRI e o PAN - se uniram para, em comissão do Congresso, destituir a imunidade do governador do Distrito Federal, o favorito para triunfar nas eleições presidenciais de julho do próximo ano, Andrés Manuel Lopez Obrador. O objetivo é permitir que ele seja processado por uma suposta desobediência a determinação da Justiça.
Nesta semana, provavelmente na quinta-feira (7), o Parlamento pode ratificar essa decisão. Se isso acontecer, aumentarão as pressões contra a candidatura de Obrador, impedindo que os mexicanos decidam livremente sobre quem desejam que governe o país, em meio a uma de suas maiores crises, causada pelo fracasso do governo do presidente Vicente Fox.
A grotesca acusação contra Lopez Obrador é a de que ele ordenou a expropriação de um edifício privado para a construção de uma rua de acesso a um hospital, na capital mexicana. O proprietário apresentou um recursos à Justiça, que pediu a suspensão da imunidade do governador, concedida agora pelos deputados, temerosos da força da candidatura de Lopez Obrador. Para quem conhece um pouco da política mexicana, com os incontáveis casos de corrupção que permanecem impunes, pode imaginar a farsa que significa essa acusação.
A proibição de Lopez Obrador de ser candidato à presidência do México “o converteria no maior herói mexicano do século XXI; poderia provocar o caos político; projetaria uma imagem negativa do país no mundo”. As declarações não são de algum político do opositor PRD, partido de Lopez Obrador, mas de um dirigente do PRI. Lopez Obrador afirma que seguirá candidato, mesmo na prisão. A maior das manifestações políticas que o México conheceu se deu em apoio a ele, e espera-se que qualquer punição suscite uma onda de manifestações que agitará todo o México.
Nesse episódio está em jogo a democracia no México, e em parte significativa o destino do continente. Se o governo mexicano escapar do controle das políticas de Washington, crescerão as perspectivas de integração latino-americana, a partir de 2006, com a reeleição de Hugo Chávez, de Lula e de Kirchner, somadas à eleição de Lopez Obrador e de Evo Morales, mais o governo de Tabaré Vázquez no Uruguai. Seria um quadro inédito e extremamente favorável à integração da América Latina. Por isso o governo Bush se jogará com todas as suas forças contra essa possibilidade, de que a ofensiva contra Lopez Obrador faz parte.
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