Atenha-se a detalhes: apanhado à luz do sol com o bolo na mão, invente uma desculpa qualquer. Bobo adora desculpas. Alegue ter ido ao banco pagar uma conta e o dinheiro, ávido por liberdade, pulou da caixa-forte ao seu bolso. Ou explique que o assessor, à sua revelia, embolsou o dinheiro. Todo bobo presume que políticos ingênuos são vítimas de assessores espertos.

Lembre-se de que bobo aprecia discursos inflamados e empolga-se com o brilho oratório de cantores de ópera de quintal. Faça jogo de cena diante do bobo e receba dele admiração e aplausos. Caso seja cassado, cace seus eleitores e os convença a transferir o voto a seus descendentes. Bobo tem sempre uma queda pela monarquia e apóia dinastias. No fundo, gostaria de ser o bobo da corte.

Canalize toda a dinheirama para um boi de piranha. É a única maneira de atravessar o rio da margem da suspeita à da suposta inocência. Jogue toda a carga sobre as costas do boi. Insista na versão de que um boi solitário enlameou todo o rebanho. Boi de piranha nada debaixo d’água. Mergulhado no leito fétido do rio, não se vê nem se ouve nada que faz.

Todo bobo acredita em milagres. Se perguntarem de onde procede tanto dinheiro, diga que caiu do céu, como o maná do deserto a alimentar as tribos de Moisés. Ou revele a grande mágica: banqueiros generosos, seduzidos pela irradiante simpatia do cliente, abriram-lhe corações e bolsos, tendo como caução a simples convicção de que vale a palavra dada. Em terra de bode conta o fio do bigode.

Mas não esqueça: ponha o bobo na outra ponta da linha, pires à mão, pedindo mundo afora uns tostões para zerar a fome da turba esquálida. Milhões são para barões. Tostões para bagrinhos. E gotas de contribuições voluntárias e solidárias para quem já se acostumou a contar no prato os grãos de arroz e feijão.

Acresça à receita o aluguel de um restaurante licitado pelo poder público. Pague à sombra a propina de manutenção do contrato. Caso se descubra a operação, busque um morto e atribua a ele o destino da quantia estampada no cheque. Bobos dispensam explicações quando tem morto na linha. Se no meio do caminho há um cadáver, como diria o poeta, o melhor mesmo é ficar no meio do caminho. Mortos não falam. São imputáveis, como se julgam certos parlamentares.

Não esqueça de incluir na lista de bobos aqueles que, no tribunal eleitoral, aceitaram a declaração do candidato constando que, em sua campanha, gastou tão-somente R$ 33,12, embora tenha recebido R$ 1 mil de contribuições e mais um cheque samaritano de R$ 7,5 mil.

Mantenha em banho-maria todos os suspeitos de envolvimento em maracutaias. Reduza o fogo do processo investigativo, protelando-o às calendas. Transforme a CPI em palanque prévio, peça a palavra para não dizer nada, só aparecer na TV, e olvide as investigações. Bobo se cansa com o tempo, não presta mais atenção, não cobra, desliga a televisão. Livres de inquirições, hospede-se no quartel de Abrantes, onde se consegue dormir como antes.

Confie na desmemória do bobo e pose de paladino da moralidade. Bobo nem se lembra de US$ 1,4 bilhão envolvidos no projeto Sivam; louva o gesto misericordioso do governo ao canalizar, via Proer, R$ 9,6 bilhões a um banco privado; nunca viu uma agência dos bancos Marka e FonteCidam; ignora o que significa ‘precatórios’; acredita que privatização é uma coisa, e privataria, outra.

Proclame o que todo bobo gosta de ouvir: houve traição sem que houvesse traidores; sonegação sem sonegadores; corrupção sem corruptores. Caso algum dinheiro seja encontrado fora do país, diga ao bobo que o depositaram na conta que lhe pertence à sua revelia. Bobo acredita que há quem ganhe na loteria sem ao menos ter o trabalho de jogar.

Daqui a um ano, sugira ao bobo votar em todos os adestradores de bobos. Bobo adora ser o que é - bobo.

Adital