Depois do referendo de agosto de 2004, em que foi derrotada pelo governo de Hugo Chavez, em pleito legitimado até mesmo por instâncias como o Instituto James Cartes e a OEA, através do seu secretário-geral, César Gaviria, a ficava em suspenso que atitude tomaria a direita desse país diante da afirmação da legalidade e do apoio popular do governo da Venezuela.
Uma possibilidade seria a participação em um sistema institucional consolidado, reformado e apoiado pela maioria dos venezuelanos – inclusive pelos que votaram contra o governo, mas que assim afirmaram sua confiança na nova Constituição. Teriam que enfrentar o crescente apoio conquistado pelo governo, mas pelo menos disporiam de um marco definido de leis e instâncias jurídicas.
Outra alternativa seria enveredar novamente pela aventura do golpe militar, como haviam tratado de fazer nos anos anteriores, até desembocar no golpe de abril de 2002, em que chegaram, com a participação protagônica da grande mídia e do governo dos EUA, a ter detido o presidente Hugo Chavez, até que um formidável movimento popular, inédito na América Latina, conseguiu repor o mandatário na presidência, revertendo o golpe militar.
Apesar do fracasso, é o método mais condizente com a atuação do governo Bush, cujos assessores não se cansam, absurdamente, de proclamar que o problema maior para a democracia no continente não estaria na conflagrada Colômbia, mas na Venezuela bolivariana. Como parte de sua “guerra infinita”, a Venezuela tornou-se um dos focos da ação estadunidense, que tem nos partidos opositores, sua ponta de lança.
Quando os venezuelanos se aprestam para votar, renovando suas instâncias partidárias, a desmoralizada oposição, diante do fracasso que as pesquisas apontam – dando mais do que 70% de apoio ao governo – decidiram, com toda a cobertura do governo Bush e da grande mídia internacional que obedece a essa orientação, boicotar as eleições, alegando falta de condições de transparência. Até mesmo o presidente de um desses partidos e outros altos dirigentes, discordam dessa decisão e seguirão participando do processo eleitoral, mas o que interessa a esses grupos minoritários e golpistas, é criar um clima que possa favorecer uma intervenção militar dos EUA – objetivo dessas ações desestabilizadoras que, ao não contar com apoio interno, apelam para seus tradicionais apoios externos.
Uma grande ação de apoio ao governo legitimo e popular da Venezuela é absolutamente indispensável, para evitar mais essa manobra golpista, que se vem somar ao golpe militar e à greve empresarial de 2002, que foram superadas pelo governo de Hugo Chavez, graças ao apoio popular, assim como à solidariedade internacional. O governo brasileiro deve imediatamente se pronunciar contra essa nova manobra do governo Bush e de seus aliados internos e externos, no momento em que a Venezuela adere ao Mercosul, em que assina importantes acordos com o Brasil, com a Argentina, com Cuba, entre outros países do continente, acelerando o processo de integração regional.
Essa contraofensiva direitista não é alheia ao que faz a direita brasileira, com parte da ação desesperada do governo Bush, isolado pela rejeição continental à sua política agressiva e guerreira. Faz parte dela e, como tal, deve ser rejeitada maciçamente pelo povo brasileiros, pelas suas organizações políticas, sociais e culturais, assim como pela sua intelectualidade crítica.
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