A 150 quilómetros desse lugar, 21 mil policiais japoneses, com impressionantes escudos e capacetes, custodiavam o centro urbano de Sapporo, prontos para neutralizar protestos. Mais outros 20 mil vigiavam as ruas do próprio Tóquio, a capital do Japão.
O G-8 integra, por ordem alfabético, a Alemanha, o Canadá, os Estados Unidos, a França, a Grã-Bretanha, a Itália, o Japão e a Rússia. Os seus líderes vivem acossados por problemas, entre outros os vestígios do passado e a tendência crescente ao domínio político, económico, tecnológico e militar dos Estados Unidos. Todos deverão encarar um enxame de problemas nacionais e internacionais inadiáveis, que exigem soluções urgentes.
Convidaram a sua reunião em Toyako o chamado grupo do G-5: o Brasil, a China, a Índia, o México e a África do Sul, para escutá-los durante um pequeno-almoço.
Também foram convidados a conversar durante uma hora mais três países de economias emergentes: a Austrália, a Coréia do Sul e a Indonésia.
Segundo estimativas, em 11 de Julho de 2008, a população do planeta totalizava 6 709 milhões de habitantes. Os países em desenvolvimento mencionados possuem mais do 65 por cento da população mundial.
Durante os três dias foram realizadas reuniões multilaterais e bilaterais de todo tipo. Os países em desenvolvimento convidados ao encontro reuniram-se em Hokkaido e falaram sem papas na língua.
Na declaração final da Cúpula as potências industrializadas do G-8 proclamaram que foi obtida uma grande concessão: os Estados Unidos, e com ele as outras potencias do grupo, tinham-se comprometido a reduzir a emissão de gases exigida, para o ano 2050, daqui a 42 anos! Isto é, para as calendas gregas. Nenhum dos restantes problemas críticos que deram lugar a tão estranha cúpula tinha sido resolvido.
Dela emanaram importantes notícias que falam por si próprias, e das quais escolho textualmente apenas algumas:
“… fracassaram em atingir um acordo com países emergentes sobre como responder à mudança climática”
“As 16 principais economias comprometeram-se a realizar profundos cortes nas emissões de gases embora países emergentes ratificassem aos mais poderosos a suas exigências de fundos e tecnologias.”
“O presidente Hu Jintao rejeitou acusações de que a crise alimentar é devida ao crescimento económico de alguns países em desenvolvimento.”
“Lula sugeriu que a FAO atribuiu o aumento global dos alimentos às manobras especulativas com as matérias-primas.”
“O Fundo Mundial para a Natureza qualifica de patético o comportamento dos países ricos do G-8, aos quais acusou de iludirem responsabilidade na luta contra a mudança climática.”
“Os subsídios agrícolas foram hoje o maior ponto de fricção durante a reunião do G-8 e o G-5.”
“Os funcionários do Banco Central Europeu disseram que continuam preocupados pela inflação apesar da subida das taxas de juros.”
“‘É uma falha completa, não avançaram e sim evitaram adoptar claros objectivos de redução de emissão de gases a mediano prazo,’ salientou Greenpeace, uma importante organização internacional comprometida com a defesa do meio ambiente.”
“‘ A Rússia está extremamente contrariada pela assinatura na terça-feira entre Washigton e Praga de um acordo para o escudo espacial,’ disse o presidente Medvedev no Japão.”
“Peritos militares russos reagiram com indignação à assinatura de um acordo entre os Estados Unidos e Praga para a instalação do escudo antimisséis e exigiram duras medidas de represália.”
Em 10 de Julho continuaram chegando a Cuba as lamentações sobre as conseqüências do actual caos, vinculadas ou não directamente à Cúpula do Japão.
“Os corais também sofrem estresse devido a factores como a mudança climática e a poluição, que provocaram que um terço de estes construtores de recifes estejam em perigo de extinção. Os recifes de coral, cuja construção precisa de milhões de anos, albergam mais de 25 por cento das espécies marinhas.”
Nesse mesmo dia, e sem relação com a outra notícia, na União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) surgiu a seguinte informação: “As variações na temperatura devido à mudança climática terão um forte impacto nas pescas e na aqüicultura, com importantes consequências para a segurança alimentar de algumas populações. Foi explicado que os alimentos aquáticos têm uma elevada capacidade nutricional e contribuem com 20 por cento ou mais do consumo médio per capita de proteína animal de 2 800 milhões de pessoas, principalmente nos países em desenvolvimento.”
Esse dia do continente africano eram lançadas igualmente duras críticas:
“O Pacto Europeu sobre Imigração começa a despertar à indignação na África, à qual o Senegal pediu que reaja perante o que alguns descrevem como um ‘muro’ erigido pela Europa contra os desesperados do Sul”, declarou o Ministro das Relações Exteriores desse país ao finalizar uma reunião de peritos em Dakar.
Por seu lado, o jornal El País, de Burquina Faso publicou:
“Para deter a horda de desesperados que geralmente chegam do sul para tomar por assalto as suas fronteiras, a Europa não encontrou nada melhor que levantar um muro.
“A época dos novos muros é um anacronismo na era da mundialização…”
A chuva de queixas não cessa. Enquanto Gordon Brown, Primeiro-ministro da Grã-Bretanha, ainda se encontrava no Japão, um estudo da cadeia britânica BBC informava a baixa moral das Forças Armadas britânicas.
“Segundo o estudo do Ministério da Defesa do Reino Unido, quase a metade do pessoal militar desse país está pronto para deixar as Forças Armadas.
“47% dos membros do Exército e da Marinha Real e 44% da Real Força Aérea, submetidos à enquete, disseram que estão com vontade de deixar as Forças Armadas.
“Entre as inquietações manifestadas… estão os freqüentes desdobramentos no estrangeiro, o nível de pagamento e da habitação.
“O exército Regular já padece um deficit de uns cinco mil soldados em meio das preocupações de que oficiais jovens com experiência e oficiais não comissionados estão desertando a taxas sem precedentes.
“Sobre a moral nos diferentes serviços, o 59 por cento dos entrevistados do Exército disseram que o nível estava ‘baixo ou muito baixo’, 64 por cento na Marinha Real, 38 por cento na Infantaria da Marinha, e 72 por cento na Real Força Aérea”.
Uma questão que fere a sensibilidade das pessoas, em qualquer sistema social, é o desrespeito a sua privacidade.
Antes, por exemplo, as leis protegiam a correspondência. Depois a protecção foi estendida às comunicações telefónicas, um meio de comunicação mais rápido e instantâneo. As leis dos Estados Unidos proibiam a sua intercepção sem licença judicial. A sua violação dava lugar a demandas judiciais, que nesse país chegaram a ser elevadas a quantiosas somas.
Em 9 de Julho transacto, enquanto Bush se reunia com os seus colegas do G-8 e o governo dos Estados Unidos - apesar dos seus genocídios - pretendia ser considerado campeão dos direitos humanos, o Senado dos Estados Unidos aprovou, por 68 votos a favor e 28 contra, “uma lei que moderniza a Lei de Espionagem e concede imunidade às empresas de telecomunicações que colaboram com o governo…”
A luta contra o terrorismo é o consabido pretexto, e as intercepções se vinham fazendo durante anos sem licença alguma. “Agora é mais fácil proteger aos estadunidenses”, declarou Bush, ao regressar ao país, desde o roseiral da Casa Branca.
“A iniciativa autoriza escutas telefónicas sem licença judicial que usam as redes dos Estados Unidos, sejam de estadunidenses ou de estrangeiros”.
A lei anterior, datada em 1978, “não incluía as novas tecnologias de comunicações como móveis, Internet e correio electrónico”.
Como a imensa maioria das comunicações são captadas pelos Estados Unidos, “a medida aprovada protege às empresas de comunicações de demandas multimilionárias de pessoas que aleguem violação da privacidade”.
A lei é aplicada de maneira retroactiva. “A União Americana de Liberdades Civis qualificou a lei de ‘inconstitucional’ e de ‘assalto às liberdades civis e ao direito à privacidade’.”
Notícias procedentes da Suécia comunicavam: “A aliança de centro-direita do Primeiro Ministro Frederick Reinfeldt, rejeitou a proposta do Partido Social-democrata de revisar a lei que permite ao Departamento de Rádio de Defesa (FRA) aceder a todas as conversações telefónicas e ao tráfego de dados por cabo desde e para o exterior do país.
“A conhecida como Lei FRA, também batizada Lei Orwell pelo livro 1984, desse escritor britânico, recebeu uma forte crítica do empresariado em forma de carta aberta no Dagens Nyheter”, principal diário da Suécia.
“O governo justificou a adopção da lei, aprovada a 19 de Junho passado para aperfeiçoar a luta contra as ameaças terroristas”.
Outro jornal sueco, o Svenska Dagbladet, publicou ontem que “um dos motivos centrais da lei é, contudo, controlar a informação procedente da Rússia e usá-la para negociar intercâmbios com outros países, já que por volta de 80 por cento do tráfego das comunicações exteriores da Rússia por cabo passa pela Suécia.
“A normativa começará a vigorar a um de Janeiro do 2009. Milhares de pessoas se manifestaram há uns dias em Estocolmo e Malmö contra a Lei FRA, e já há planejadas mobilizações semelhantes para as próximas semanas em todo o país, articuladas ao redor de vários ‘blogs’ e grupos da rede social Facebook.”
As queixas continuam chovendo por todas partes. Por exemplo, um cabograma afirma: “Os alemães estão mais pessimistas sobre o seu panorama económico que em qualquer outro momento desde a reunificação em 1990, devido às alças nos preços, conforme sondagem.”
Outros expressam:
§ “ A Taxa de desemprego no Canadá atingiu 6,2 por cento no mês de Junho.”
§ “ O governo russo rejeita a proposta lançada por Condoleezza Rice de uma mediação internacional para resolver o conflito das regiões separatistas de Abjasia e Osetia do Sul, motivo de tensões crescentes entre o Moscovo e a Geórgia.”
§ “Dois soldados da OTAN foram mortos e outro ferido quinta-feira, em um atentado com bomba no este de Afeganistão, anunciou a Força Internacional de Ajuda à Segurança (ISAF).”
§ “Afirma a Rússia que os ensaios por parte do Irão de um novo míssil de longo alcance confirmam que o Moscovo tem a razão quando qualifica de desnecessário a colocação de elementos do escudo antimisséis dos Estados Unidos na Europa.”
§ “Assegura o exército do Israel que são infundadas as acusações de supostos vôos de caça-bombeiros israelitas que treinam no Iraque um possível ataque a instalações nucleares iranianas.”
§ “ A Grã-Bretanha expressou a sua decepção pelo veto imposto pela Rússia e a China, no Conselho de Segurança da ONU, a um projecto de Resolução que pretendia sancionar o Zimbabué.”
§ O Sudão convocou hoje os embaixadores dos cinco países membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU para pedir explicações sobre uma possível ordem de detenção contra o presidente Al Bachir.”
§ “Nova ‘ bomba especial’ é a principal ameaça para os soldados ianques no Iraque, segundo o general estadunidense Jeffery Hammons.”
§ “Encontram os cadáveres de dois soldados ianques que estavam desaparecidos no Iraque há mais de um ano.”
Todos são do dia 11 de Julho. Poderiam ser incluídas nestas linhas dezenas de notícias semelhantes publicadas no mesmo dia. Aos sábados diminuem as informações; aos domingos quase não há notícias, os repórteres em geral descansam. Mas hoje é segunda-feira.
Todos os dias surgem no nosso mundo actual novos e cada vez mais espinhosos problemas, que esgotam a capacidade dos chefes de Estado e Governo chamados a encará-los.
Não é uma crítica; é uma observação. Não se pode esperar dos seres humanos faculdades sobrenaturais.
O melhor sempre será o optimismo. Não há outra hipótese. Foi por isso que um dia falei de uma espécie em perigo de extinção.
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