O grande navio anfíbio USS Batam regressará ao Médio Oriente. Em 2002, foi usado pelo Secretário de Defesa, Colin Powell, para albergar uma prisão secreta. Vários milhares de combatentes foram sequestrados em diversos campos de batalha e torturados em águas internacionais a fim de serem aí preparados para acções específicas e depois libertados.

NATOME: Assim, o Presidente Trump, que se orgulha do seu talento para criar siglas, já baptizou o destacamento da NATO no Médio Oriente, por ele solicitado por telefone, ao Secretário Geral da Aliança, Stoltenberg. Este concordou imediatamente, que a NATO deveria ter “um papel cada vez maior no Médio Oriente, particularmente, nas missões de treino”. Ele participou, em seguida, na reunião dos Ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, salientando que a União Europeia deve permanecer ao lado dos Estados Unidos e da NATO, porque “embora tenhamos feito progressos enormes, o Daesh pode regressar”. Os Estados Unidos procuram, deste modo, envolver os aliados europeus na situação caótica provocada pelo assassínio, autorizado pelo próprio Trump, do General iraniano Soleimani, logo que desembarcou no aeroporto de Bagdad. Depois do Parlamento iraquiano ter deliberado a expulsão de mais de 5.000 soldados americanos presentes no país, juntamente com milhares de pessoal militar de empresas privadas, contratados pelo Pentágono, o Primeiro Ministro Abdul-Mahdi, pediu ao Departamento do Estado para enviar uma delegação a fim de estabelecer o procedimento da retirada. Os EUA - respondeu o Departamento – irão enviar uma delegação “não para discutir a retirada de tropas, mas o dispositivo adequado de forças no Médio Oriente”, acrescentando que em Washington se está a ajustar “o reforço do papel da NATO no Iraque, alinhado com o desejo do Presidente de que os Aliados partilhem o fardo de todos os esforços para a nossa defesa colectiva”.

O plano é claro: substituir, totalmente ou em parte, as tropas USA no Iraque pelas dos aliados europeus, que se encontrariam nas situações mais arriscadas, como demonstra o facto de que a própria NATO, depois do assassínio de Soleimani, suspendeu as missões de treino no Iraque. Além da frente meridional, a NATO está a ser mobilizada na frente oriental. Para “defender a Europa da ameaça russa”, está a preparar-se o exercício Defender Europe 20 que, em Abril e Maio, terá o maior destacamento de forças USA na Europa, dos últimos 25 anos. Chegarão dos Estados Unidos 20.000 soldados, incluindo vários milhares de militares da Guarda Nacional dos 12 estados USA, que se juntarão aos 9.000 já presentes na Europa, elevando o total para cerca de 30.000 militares. A eles juntar-se-ão 7.000 soldados de 13 países europeus da NATO, entre os quais a Itália e 2 parceiros, a Geórgia e a Finlândia. Além dos armamentos que virão do outro lado do Atlântico, as tropas americanas empregarão 13.000 tanques, canhões auto-propulsores, veículos blindados e outros meios militares dos “depósitos pré-posicionados” dos USA na Europa. Comboios militares com veículos blindados percorrerão 4.000 km por 12 artérias, operando em conjunto com aviões, helicópteros, drones e unidades navais. Páraquedistas USA da 173ª Brigada e italianos da Brigada Folgore serão lançados em conjunto, na Letónia.

O exercício Defender Europe 20 assume maior relevo, na estratégia USA/NATO, após o agravamento da crise no Médio Oriente. O Pentágono que, no ano passado enviou 14.000 soldados para o Médio Oriente, está a desviar na mesma região, algumas forças que se estavam a preparar para os exercícios de guerra na Europa: 4.000 paraquedistas da 82ª Divisão Aerotransportada (incluindo algumas centenas de Vicenza) e 4.500 marinheiros e fuzileiros navais do navio de ataque anfíbio USS Bataan. Outras forças, antes ou depois do exercício na Europa, poderiam ser enviadas para o Médio Oriente. No entanto, o planeamento do Defender Europe 20, observa o Pentágono, permanece inalterado. Por outras palavras, 30.000 soldados dos EUA exercitar-se-ão a defender a Europa de uma agressão russa, um cenário que nunca poderia verificar-se porque no combate, usar-se-iam não tanques, mas mísseis nucleares. No entanto, é um cenário útil para semear tensões e alimentar a ideia do inimigo.

Tradução
Maria Luísa de Vasconcellos
Fonte
Il Manifesto (Itália)