Em um arrojado rompimento do conceito do FSM como espaço aberto horizontal, um grupo de personalidades esboçou um programa e pediu aos participantes que o aprovassem.
Pode ter sido uma questão de frustração ou talvez um desejo sincero de ajudar. Qualquer que seja o motivo, 19 ativistas de alto perfil do FSM despenderam um dia e meio elaborando um consenso para uma conferência que se orgulha de não produzir nenhum.
Ontem eles apresentaram ao Fórum Social Mundial um documento contendo os principais temas do projeto e convidaram os outros 120 mil participantes a assiná-lo. A ação provavelmente deve gerar especulações de todos os tipos sobre os propósitos deste novo grupo, composto em sua maioria por fundadores do FSM e membros do Comitê Internacional (CI).
Entre os notáveis que não assinaram estão os membros brasileiros do CI, Candido Grzybowski e Francisco (Chico) Whitaker. Este último reduziu a importância do documento, comparando-o a "dúzias, talvez centenas de outras propostas" apresentadas neste V FSM.
Ele admitiu que o manifesto, apoiado por um grupo que inclui dois vencedores do prêmio Nobel, tem um peso considerável, mas "não gera consenso".
Mas o "G-19" pensa de forma diferente.
"Agora ninguém pode dizer que nós não temos programa. Agora nós temos o consenso de Porto Alegre e temos a certeza - estamos confiantes - de que a grande maioria das pessoas do Fórum concorda com esta proposta", disse Ignacio Ramonet, editor do Le Monde Diplomatique, presidente do Media Watch Global e um dos 19 que trabalharam para levar esse presente de coerência ao FSM.
Lançado no final do sábado no Hotel Plaza San Rafael - fora do Território Social Mundial, como observado apropriadamente por uma autoridade brasileira - o Manifesto de Porto Alegre é um documento de 12 pontos que destaca os principais temas discutidos no FSM 2005.
"É uma síntese do que o FSM está propondo globalmente", disse Ramonet.
"Não é possível continuar a falar que "um outro mundo é possível" se não fizermos algumas propostas sobre como alcançar esse outro mundo", acrescentou Riccardo Petrella, um dos apresentadores na coletiva de imprensa.
Os pontos incluem cancelamento das dívidas, adoção da "taxa Tobin" sobre transferências monetárias financeiras, desmantelamento de abrigos fiscais, promoção de formas justas de comércio, garantia de soberania de direitos de um país para que não só possa produzir alimentos acessíveis para seus cidadãos como também possa controlar seu suprimento de alimentos, implementação de políticas antidiscriminação contra minorias e mulheres, e democratização de organizações internacionais que incluiria também a mudança da sede da ONU de sua atual localização em Nova York para o Sul.
Os jornalistas foram informados de que, embora possa parecer, não houve mudanças na metodologia do FSM. Os que formularam o documento estavam somente tentando ajudar.
"Estamos somente tentando abrir o debate, estimular o estabelecimento de alianças cooperativas internacionais", disse Petrella.
Falando ao TerraViva após o término da coletiva, ele não disse quando o documento foi preparado mas observou que o momento de sua divulgação mostrou que não era uma tentativa de forçar qualquer agenda do FSM.
"Se ele tivesse sido divulgado no início poderia ser interpretado com uma proposta para discussão", disse ele.
Como está agora, conforme dito por seus autores, é meramente uma base para ajudar os participantes a focar os assuntos em mãos.
Os primeiros signatários do Manifesto incluem: Aminata Traoré, Adolfo Pérez Esquivel, Eduardo Galeano, José Saramago, François Houtart, Boaventura de Sousa Santos, Armand Mattelart, Roberto Savio, Riccardo Petrella, Ignacio Ramonet, Bernard Cassen, Samir Amin, Atilio Boron, Samuel Ruiz Garcia, Tariq Ali, Frei Betto, Emir Sader, Walden Bello, Immanuel Wallerstein.
Whitaker estimulou os signatários a se juntar aos que colocaram suas idéias no "Muro de Propostas" dentro do território do Fórum. "Esses muros reuniram dúzias de propostas, listas e ações prioritárias, algumas vagas e algumas bastante profundas e todas devem ser apresentadas".
Para seus proponentes, este Manifesto representa um passo corajoso e arrojado necessário para converter o FSM em uma força política efetiva para mudanças globais. Para outros, como disse uma autoridade brasileira ao TerraViva, representa apenas as mesmas velhas "celebridades" que não podem engolir o fato de fazerem parte das massas que alguma vez lideraram.
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