O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, lançou ontem ao FSM o desafio da ação política direta
"É momento de dar um passo, e este 5º Fórum pode ser o início de uma nova etapa. Os próximos cinco anos devem vir acompanhados de uma agenda social mundial. Que a esta agenda, agreguemos uma estratégia de poder", disse o dirigente.
"Se trata de poder e decontra-poder, de hegemonia e de contra-hegemonia, de ver qual projeto se impõe no mundo, se o projeto da destruição deste belo planeta, ou o projeto nosso, que é o projeto da vida, frente ao projeto da morte, e ver qual se impõe no final", acrescentou.
Chávez iniciou sua visita a Brasil de uma maneira não usual: foi diretamente do aeroporto de Porto Alegre para um assentamento ocupado por integrantes do Movimento Sem Terra, conhecido como Assentamento Lago do Junco, um terreno de 840 hectares que dá trabalho e sustento a 37 famílias de agricultores.
Ali, com uma chamativa camisa vermelha, tomou conta da cena, como de costume, distribuindo abraços e misturando-se aos camponeses, vestindo suas roupas e colocando um chapéu, como quem quer ser apenas mais um, e mais nada: "Hugo, camponês e soldado".
Mas ele sabe que não é assim tão simples. Sabe que desperta paixões, e as provoca. Encontrou um Gigantinho repleto, ávido de aplaudir seu discurso radical, escutar sua interminável oratória, as elipses de incoerência aparente que terminam com uma lógica que por vezes surpreende. No Lago do Junco, os camponeses o viram abrir a camisa, feliz, para mostrar um Che Guevara perto do coração.
Chávez conquista corações e arranca aplausos e lágrimas femininas, assim como também ódio, e a constante ironia de jornalistas e intelectuais, por causa de um estilo tão pouco presidencial que perturba.
E propõe o que já está proposto: "Me disseram que há uma idéia de desconcentrar e que haveria um evento do Fórum Social Mundial em Caracas. Pois desde já nos colocamos às ordens e nos comprometemos com isso", disse.
"Se queremos acabar com a pobreza, demos o poder aos pobres. Mas que tipo de poder? O poder político, através da organização popular, e uma amostra dela é o povo da Venezuela", acrescentou.
Em uma coletiva à imprensa, ao retornar do assentamento rural, denunciou os Estados Unidos por tentar isolar a Venezuela, utilizando o incidente diplomático recente entre o seu país e a Colômbia, por causa do seqüestro em Caracas de um alto dirigente da guerrilha colombiana, em dezembro último, por ordem de autoridades colombianas.
O seqüestro de Rodrigo Grande, responsável pelas relações exteriores das Forças Armadas Revolucionárias (Farc) "foi uma provocação fabricada em Washington", disse Chávez.
Ele é o único mandatário estrangeiro a visitar o Fórum, que considera "o acontecimento político mais importante do mundo", e o seu desempenho no Gigantinho o converteu instantaneamente em responsável pelo real fechamento deste fórum, frente a um estádio repleto.
À vontade frente à multidão, soube aproveitar a circunstância. Disse o que as pessoas queriam ouvir, que a resposta é direta e radical, que não se deve esperar elaborações intelectuais, que é preciso pensar em uma estratégia e no poder. Ele o sabe, ele o fez, ele o faz sempre. E eles o aplaudem, os intelectuais o subestimam, seus opositores se enfurecem, e o Fórum se derrama numa noite de festa e cerveja.
Depois virão sol, o calor abrasador, a marcha final e um "até a próxima", cheio do vazio de cada janeiro, como acontece há cinco anos.
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