Um sinal verde amarelo atravessa o mundo, levando imagens e sons do Fórum Social Mundial. Além dela, a Vive, televisão estatal venezuelana, também transmite ao seu país e, durante dez minutos diários, para o Brasil, o que se passa em Porto Alegre.
A novidade brasileira é a TV Brasil, que por uma união dos quatro meios de comunicação brasileiros ligados ao executivo, legislativo e judiciário (Radiobrás, TV Senado e Câmara e TV Justiça), realiza seu projeto piloto em Porto Alegre.
A TV surgiu com a idéia do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e do presidente do Senado brasileiro, José Sarney, de criar uma televisão estatal que sirva de integração para os países do continente sul-americano. "Essa televisão não é um meio de fazer propaganda do Brasil para o mundo, mas tem a finalidade de ajudar os povos deste continente a se reconhecerem", conta José Roberto Garcez, diretor de Comunicação da Radiobrás.
A transmissão acrescenta uma novidade importante ao ideal de construir meios de comunicação internacionais na América do Sul. É a primeira vez que uma televisão estatal leva para fora do país imagens do Fórum Social de Porto Alegre.
O canal transmite em português e espanhol, para toda a América Latina e algumas partes da América do Norte, Europa e África. "O fórum foi o local perfeito para o projeto ser testado", explica Eugênio Bucci, presidente da Radiobrás. "Esse é um evento no qual estão presentes pessoas de todo o mundo e as interações entre elas são horizontais".
Estúdio Para ser possível o lançamento, montou-se um estúdio de comunicação em pleno Fórum, com 40 profissionais, incluindo mais de 20 jornalistas, para levar ao mundo, por mais de 12 horas ao dia, o que se passa em Porto Alegre. "A transmissão começa pela manhã, quando as conferências são iniciadas, e só acaba com o término dos shows, na madrugada", explica Lia Rangel, coordenadora do projeto. Além disso, um jornal ao vivo, com duração de 30 minutos, veicula as principais notícias do dia. "Foi difícil montar a estrutura para a estréia do jornal, mas já começamos entrevistando Adolfo Pérez Esquivel - Prêmio Nobel da Paz, em 1980", comenta Ana Maria Rocha, chefe de redação da TV Brasil no FSM.
Porém, não é só o Brasil que pretende lançar um meio de comunicação internacional de integração da América do Sul. Hugo Chávez, presidente da Venezuela, já anunciou a criação da Telesur, que teria a mesma idéia da televisão brasileira, embora existem argumentos contrários.
"Acredito que a idéia da Telesur seja mais arrojada. Penso que os brasileiros estejam um pouco receosos, esperando para saber até que ponto os venezuelanos irão empurrá-los nessa idéia", especula Iraê Sassi, colaborador ativo, como ele mesmo diz, da Telesur. Apesar disso, as duas futuras ’potências estatais’ contêm as mesmas propostas, como integração e fortalecimento do América do Sul, visando um auto-reconhecimento e uma outra visão do continente.
Contra hegemonia Segundo Aram Aharonian, diretor-geral da Telesur, "sabemos o que se passa na Chechênia e não sabemos o que se passa aqui na América Látina, por isso a criação desta emissora é fundamental". Sua estréia está marcada para abril deste ano. Ainda para Aharenian, a Telesur não pretende ser mais que um canal na América do Sul, mas que seja capaz de romper com a hegemonia da comunicação existente. "Quanto mais canais existirem, melhor para a comunicação. O importante é democratizar a informação, ver a América Latina com olhos latino-americanos", acredita.
Enquanto a Telesur não sai do papel, a Vive acompanha o fórum a todo vapor. Com três horas diárias de transmissão, quatro salas de edição e quatro equipes de imprensa, a TV venezuelana tem como conteúdos principais as questões indígenas, a comunicação alternativa e, principalmente, o problema de terras para os camponeses.
Segundo o diretor de operação da Radiobrás, Roberto Gontijo, a TV Brasil ajuda os venezuelanos, tanto com infra-estrutura, como no fornecimento de imagens. "No dia 30, iremos gerar a imagem do presidente Chávez, no Gigantinho, e as cederemos para a Vive".
Esta pode ser apenas a primeira vez que uma televisão brasileira e venezuelana estabelecem relação. "Com a Telesur faremos trocas dos mais diversos tipos. As duas emissoras serão complementares", projeta Eugênio Bucci.
O governo argentino também pensa em criar a sua televisão internacional, o que mostra a real preocupação dos países sul-americanos com essa questão. Segundo Aharonian, "a Argentina selará um acordo de integração do capital da Telesur".
Apesar de todas as especulações sobre o papel que estas televisões exerceriam, não parece haver discordância sobre a importância desta alternativa para a comunicação na América do Sul.
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