Qual os possíveis desdobramentos para o povo boliviano da vitória de Evo Morales nas eleições presidenciais? Como isso repercute nos processos de integração latino-americana? Para o professor Javier Garcia, as perspectivas são boas.
O pesquisador prevê que a Bolívia ingressará em um ciclo de transformações sociais e democráticas. Garcia cita também a origem aymará de Morales como um fator que particulariza o processo boliviano na comparação com outras lideranças populares que chegaram ao poder na América Latina, como Hugo Chávez e o próprio Lula. Na Bolívia, os indígenas são mais de 70% da população, mas nunca chegaram à Presidência do país. "É um momento de profundas mudanças qualitativas, de uma nova relação entre os países latino-americanos e as potências mundiais", avalia Garcia.
- O que a vitória de Evo Morales significa para o povo boliviano?
- Significa o reconhecimento étnico de um setor historicamente marginalizado e excluído, além de uma enorme vontade de acabar com uma série de governos cujos resultados não foram positivos.
- Que tipo de mudancas podem ocorrer com a entrada de Morales no governo boliviano?
- Em primeiro lugar, uma mudança econômica, a partir da recuperação dos recursos naturais, geração de empregos e investimentos na industrialização. Em segundo, uma profunda mudança na sociedade boliviana, com a participação de todos os setores sociais na tomada de decisões. E por último, mudanças na política, por meio da recuperção do Estado, que hoje está totalmente ultrapassado e falido.
- Qual a principal diferença entre Evo Morales e outros governantes de esquerda da América Latina, como Lula por exemplo?
- Evo traz consigo uma condição étnica para a política. A grande diferenca é que Morales é indígena e possui uma caracteristica marcante, ele representa a grande maioria camponesa do país.
O que significa a vitória de Evo Morales para a grande maioría indígena que vive na Bolivia?
Garcia - O principal elemento será a participação dos indígenas nas estruturas de poder do país, na burocracia do Estado. Nesse caso, trata-se de governar com eles, uma verdadeira democracia participativa.
- Qual o futuro das empresas transnacionais que aqui estão? A petroleira Repsol, por exemplo, já apresentou uma queda em suas ações na bolsa de Madri...
- Isso é produto de uma desconfiança em relação ao governo de Evo, principalmente porque as empresas e o mercado sabem que os contratos serão revistos. Temos que ver os dois lados da moeda. Os contratos que estão em vigor favorecem única e exclusivamente as empresas estrangeiras. Que seja bom para os dois lados, para a Bolívia e para as empresas.
- O que pensa sobre o atual momento da América Latina com tantos partidos de esquerda chegando ao poder?
- É um momento de profundas mudanças qualitativas, de uma nova relação entre os países latino-americanos e as potências mundiais. O momento nos diz que, agora, vamos pensar um pouco mais em nós, nos nossos interesses e no povo latino-americano.
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