Enquanto Washington e Moscou se exibem e anunciam não querer ceder nada na Ucrânia, John Kerry e Sergueï Lavrov concluíram um pré-acordo verbal para sair da crise: uma reforma federal da constituição ucraniana. Resta saber se os Estados Unidos respeitarão desta vez a sua palavra, quando rejeitaram, meio-dia depois da sua assinatura, o acordo de 21 de fevereiro e prepetraram um golpe de estado.
Houve um outro telefonema hoje entre o Secretário de Estado Kerry e o Ministro dos Negócios Estrangeiros russo Lavrov. A chamada veio depois de uma reunião sobre a estratégia com relação à Ucrânia na Casa Branca. Durante a chamada, Kerry concordou com as demandas russas de federalização da Ucrânia, em que os Estados federados terão forte autonomia contra um governo central neutralizado. Putin havia oferecido essa ‘saída’ da escalada e Obama a aceitou.
O anúncio russo:
Lavrov, Kerry concordam em trabalhar na reforma constitucional na Ucrânia
(Reuters) O Ministro dos Negócios Estrangeiros russo Sergei Lavrov e o Secretário de Estado dos EUA John Kerry acordaram no domingo em buscar uma solução para a crise na Ucrânia, pressionando por reformas constitucionais, disse o Ministro dos Negócios Estrangeiros russo. Ele não apresentou detalhes sobre o tipo de reformas necessárias, exceto para dizer que elas deveriam vir "de uma forma geralmente aceitável e tendo em conta os interesses de todas as regiões da Ucrânia".
(…) "Sergei Lavrov e John Kerry concordaram em continuar o trabalho para encontrar uma solução para a Ucrânia através do lançamento de uma rápida reforma constitucional com o apoio da comunidade internacional", o ministro disse em um comunicado.
A idéia de uma "reforma constitucional" é dos russos, documentada em um artigo russo "informal".
Ele descreve o processo de obtenção de uma nova Constituição ucraniana e define alguns parâmetros para isso. A língua russa será novamente a língua oficial ao lado do ucraniano, as regiões terão alta autonomia, não haverá nenhuma interferência nos assuntos de igreja, e a Ucrânia vai ficar neutra politicamente e militarmente. Qualquer decisão de autonomia pela Criméia seria aceita. Isso tudo seria garantido por um " Grupo de Apoio à Ucrânia" consistindo dos EEUU, da UE e da Rússia, e iria ser cimentado por uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Parece que Kerry e Obama amplamente aceitaram esses parâmetros. Eles estão agora, claro, a vender essa solução como sendo sua própria, o que, como comprova o artigo "informal", não é a realidade.
Aqui está Kerry de repente "instando a Rússia" a aceitar as coisas que a Rússia exigiu e que Kerry anteriormente nunca tinha mencionado:
O Secretário de Estado John Kerry pediu a Moscou para retornar suas tropas na Crimeia para suas bases, retirar as forças da fronteira da Ucrânia, deter a agitação no leste da Ucrânia, e apoiar as reformas políticas na Ucrânia que protegeriam os russos étnicos, aqueles que falam Russo e outros grupos na antiga República Soviética com os quais a Rússia diz estar preocupada. Em uma conversa telefônica com o Ministro dos Negócios Estrangeiros russo Sergey Lavrov, a sua segunda desde as malsucedidas conversações face a face, na sexta-feira, em Londres, Kerry exortou a Rússia "a apoiar os esforços dos ucranianos, em todos os domínios, em abordar a partilha de poder e a descentralização através de um processo de reforma constitucional que seja amplamente inclusivo e proteja os direitos das minorias", disse o Departamento de Estado.
Como parece, agora, Obama desistiu. A trama do EUA para arrebatar a Ucrânia da Rússia e integrá-la à OTAN e à UE parece ter falhado. Ficando a Rússia com a Crimeia, e desde que 93% dos eleitores lá concordando em se juntar à Rússia, o principal objetivo dos planos dos EUA, de expulsar os russos de Sebastopol e, desse modo, fora do Oriente Médio, tornou-se impossível.
A ameaça russa (não pública) de imediatamente tomar as províncias do leste e do Sul da Ucrânia também tem empurrado os EEUU a concordar com as condições russas mencionadas acima. A única alternativa a isso seria um confronto militar, o qual os EUA e os europeus não estão dispostos a arriscar. Apesar da campanha anti-russa na mídia, uma maioria do povo dos EEUU, bem como de pessoal da UE, é contra tal confronto. Os EUA nunca tiveram as cartas que precisavam para vencer esse jogo.
Se tudo correr bem e uma nova constituição ucraniana abraçar as condições russas, o "ocidente" poderá ser autorizado a pagar as contas mensais que a Gazprom vai continuar enviando a Kiev.
Levará algum tempo para se implementar tudo isso. Que truques sujos os neocons em Washington usarão agora para tentar evitar esse resultado?
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