Quase dez anos após os ataques de Mumbai, ainda não se sabe com certeza quem
os patrocinou. Só sabemos agora que as vítimas não só foram escolhidas ao
acaso, mas um grupo de personalidades Indo-US foi particularmente atingido.
Apesar de o antigo Secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger não estar
mais na cena, sua equipe ainda residente em um dos hotéis atacou. Este caso
deve encorajar-nos a não fazer conclusões precipitadas sobre os atentados em
Paris.
Desde que os terroristas atacaram Paris na noite de 13 de novembro de 2015,
em uma série de ataques coordenados — consistindo de tiroteios em massa,
atentados suicidas e tomada de reféns – comparações foram feitas entre os
ataques de Paris e os ataques de Mumbai de 2008 por analistas em todo o
mundo. Michael Leiter, ex-diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo dos
Estados Unidos, disse que os ataques demonstraram grande sofisticação, não
vista em um ataque em cidade desde os ataques de Mumbai de 2008, e que isso
mudaria a forma como o Ocidente considera a ameaça [1].
Bruce Riedel, diretor do Projeto Inteligência, com base n Instituição
Brookings de organização de políticas públicas em Washington, DC, afirmou
que os ataques de Paris foram modelados conforme os ataques de Mumbai de
2008 [2]. Mumbai tem
sido estudada por ambos, terroristas e contra-terroristas, porque
estabeleceu um padrão de ouro para como um pequeno grupo de fanáticos
suicidas pode paralisar uma cidade grande, atrair a atenção mundial, e
aterrorizar um continente. Os ataques Paris e Mumbai usaram pequenos bandos
armados de terroristas atacando simultaneamente e sequencialmente contra
vários alvos frágeis em área urbana.
No entanto, após dar uma olhada mais profunda nos ataques de Mumbai de 26/11
de 2008, encontramos fatos ainda ignorados ou nunca tomado em consideração
por nossas agências investigativas e muitas perguntas cruciais que
permanecem ainda sem resposta até hoje. A esse respeito, primeiro, todos os
aspectos dos ataques de Mumbai precisam ser entendidos completamente para
sermos capazes de desenhar qualquer paralelo conclusivo com os ataques de
Paris em termos de motivo por trás dos ataques e seus autores.
Os ataques de Mumbai de 2008 em si foram uma continuação de uma série de
ataques na Índia, incluindo os atentados de trem de Mumbai de 2006, que foi
uma continuação dos bombardeios do trem de Madrid em 2004.
Ataques terroristas de Mumbai e Madrid: Análise Comparativa
Poucos especialistas em segurança da Índia estão cientes, e ainda um menor
número de políticos, têm qualquer ideia de incidentes semelhantes de
diversas magnitudes, e semelhante modus operandi, a ocorrer em todo o mundo.
Só para dar um exemplo, dois anos antes das explosões de trem de Mumbai,
ocorreu um incidente em uma das principais capitais ocidentais. Como o
conhecimento dos nossos líderes – políticos e burocratas –não vai além do
conhecimento de países de língua inglesa, o mais perto que alguém na mídia
chegou foi dos atentados de Londres, um ano antes, sobre o qual agora
provou-se que a polícia de Londres exagerou na reação e matou um inocente;
e, para encobrir sua ineficiência, teceu a história de um atentado
terrorista. No entanto, estamos satisfeitos por comparar o que aconteceu na
Índia com o que ocorreu em 9/11, tendo as consequências deixado um rastro de
destruição que se alastrou a muitos países por atos de guerra absurda e
subsequente terror que foi admitido pelo Presidente Bush como um erro e por
Condoleezza Rice como uma falha enorme de inteligência. O real evento
terrorista de 9/11 agora é exposto como um incidente, que pode não ostentar
qualquer origem de terrorismo islâmico. O exame deste caso junto com as
atuais explosões em Mumbai na investigação das razões nos ajudará na
formação de uma estratégia para orientar nossas agências de segurança em uma
nova direção.
Por isso, temos de começar o exame do primeiro ataque em Mumbai – as
explosões do trem. Exatamente dois anos antes das explosões do trem de
Mumbai, na quinta-feira, 11 de março de 2004, durante a hora do rush, de
manhã, entre 06:30 e 07:00, 8 a 10 explosões ocorreram em Madrid, Espanha,
em que exatamente 200 pessoas foram mortas e perto de 800 a 1000 feridas.
Embora os meios de comunicação ocidentais ingleses tenham culpado os
terroristas da al Qaeda ou os separatistas bascos (primeiro alegaram que os
autores eram membros do Euskadi Ta Askatasuna [ETA], que significa Pátria
Basca e Liberdade), em algumas poucas horas a polícia espanhola e os grupos
da Inteligência Europeia detectaram que o bombardeio eram na verdade uma
operação de falsa bandeira na desavença de geopolítica em curso entre a
velha Europa e os países anglicanos para perturbar o turismo espanhol a
nível regional e, no plano político, um aviso para o recém-eleito governo
socialista não sair da coalizão iraquiana, o que havia sido uma promessa
eleitoral do Partido Socialista, e para lembrá-lo de que o "terrorismo
islâmico" ainda era uma ameaça.
Primeiro, precisamos examinar o motivo, no caso da tragédia espanhola, onde
não há terrorismo de fronteiras como temos na Índia. A maioria das pessoas
repete a mesma velha pergunta “Porquê?”, e por que na Espanha?
Horas depois do atentado do trem espanhol, antes mesmo de as agências de
investigação começarem a juntar as evidências, cada uma das agências locais
da mídia, seguindo a liderança do onipotente New York Times, relatou que
entre oito e dez dispositivos explosivos tinham sido detonados a bordo dos
comboios espanhóis durante a hora do rush; mas, surpreendentemente, nenhum
deles mencionou bombistas suicidas. Esta é uma omissão impossível, porque
todos nós sabemos que cada carro, ou ônibus, avião ou trem, explodido em
qualquer lugar por "terroristas muçulmanos", invariavelmente é atacado por
’homens-bomba’. Como sabemos disso? Porque o New York Times ou o London
Observer sempre o dizem. Não importa se é um caminhão em Bagdá, um ônibus em
Tel Aviv, um carro em Moscou ou um comboio na Chechênia, o vilão da obra,
para os meios de comunicação ocidentais, é sempre o suicida muçulmano
onipresente. Como ele está ausente, no caso do bombardeio espanhol, a culpa
então foi lançada na ETA. A cuidadosa polícia espanhola excluiu ambos por
razões próprias.
A fim de explorar o motivo por trás de Madrid, precisamos voltar brevemente
no tempo para meados de 2002, quando o primeiro-ministro Australiano, John
Howard, estava encontrando dificuldades para convencer os cidadãos
australianos a ‘acompanhar os EUA até o fim’ e entrar na cruzada contra o
fundamentalismo islâmico, a assim chamada ’guerra ao terror’. Muitos poucos
americanos devem estar cientes de que, há dois anos, mais de 90% dos
australianos foram contrários a se unir às forças de coalizão em sua luta
contra o Iraque. A maioria dos Aussies apontou corretamente que, embora
milhares morressem todos os anos em acidentes rodoviários e assaltos
domésticos, ninguém tinha já sido morto na Austrália por um terrorista.
Certamente, esses cidadãos ’comuns’ que disseram ’não’ para a guerra
precisavam aprender a lição de que os terroristas’ muçulmanos’ eram reais e
onipresentes. Em início de outubro de 2002, coincidentemente, uma lição
estava pronta a ser dada quando uma sofisticada operação terrorista
multidirecional foi lançada contra os turistas australianos em férias na
popular ilha de Bali. Mais de 200 pessoas morreram e mais de 1.000 foram
seriamente feridas. Será que tais números precisos começam a chamar a
atenção para outro sobre a operação de Madrid? Ou ao número de baixas nas
explosões de trem em Mumbai? Ou o número de pessoas que morreram no recente
ataque terrorista em Mumbai? Sempre está perto de 200 mortos e 1000 feridos.
Essas coincidências são muito estranhas e de fato matematicamente precisas.
Ao longo dos dezoito meses seguintes na Espanha, as coisas ficaram ainda
pior do que já estavam na Austrália. Onde 90% dos australianos se opôs a
intervenção militar no Oriente Médio, o número na Espanha subiu para 96%.
Finalmente, o popular governo socialista prontamente pulou fora do Iraque.
Os ataques de Mumbai de 26/11–encontro importante & assassinatos
Falando à CNN-IBN em relação aos recentes atentados em Paris, o Comissário
da Polícia Conjunta de Mumbai (Lei e Ordem) Deven Bharti disse que "prime
facie, a semelhança está na escolha de múltiplos alvos, no tiroteio
indiscriminado, e no uso de DEIs [dispositivos explosivos improvisados] [3].
"Esse tipo de ataque foi primeiramente realizado em Mumbai e hoje foi
improvisado em Paris," disse Bharti.
Ele acrescentou que o modus operandi parece ser semelhante em ambos os
ataques. Notadamente, há várias semelhanças estranhas entre os ataques de
Mumbai em 26/11 e os ataques de Paris. Em ambos os casos, os autores usaram
fuzis e bombas. Além disso, em ambos os incidentes, os terroristas atacaram
alvos frágeis como restaurantes e outros lugares lotados.
O que gostaríamos de salientar aqui é que os alvos de ataques de Mumbai não
eram meramente ‘alvos frágeis’ mas ‘alvos estratégicos’, especificamente os
alvos no Taj Hotel, bem como o chefe da EAT [Esquadrão Anti-Terror] e sua
equipe, que foram assassinados.
Os ataques no Taj, nos Hotéis Oberoi e na Nariman House em Mumbai foram
peculiares e é bem possível que os alvos nesses três estabelecimentos tenham
sido indivíduos de alto valor e os ‘quem é quem’ das agências de
inteligência ocidentais. Para melhor compreender nossas próprias
necessidades de segurança, precisamos olhar para a situação através de um
novo prisma. O antigo ditado latino "Qui Bono", ou seja, "Quem se beneficiou
do ato?", e a trilha econômica, é o que precisa ser seguido. Em caso de
terrorismo global, intercalado com terrorismo patrocinado pelo Estado ou
casos de nações democráticas, apoiar o terrorismo patrocinado pelo Estado,
para ganhos de geopolítica, é uma questão para a qual se precisa perguntar:
"Quem está se beneficiando mais?" Será útil levar em consideração os
benefícios econômicos de longo alcance e as mudanças de política desejadas
pelos manipuladores desses grupos e nações, os quais podem proporcionar uma
visão verdadeira sobre a natureza do terrorismo real global, em vez de cair
em consonância com a ideia de benefícios emocionais teóricos imediatos para
algumas organizações terroristas.
Desde o início do novo milênio, o governo (à direita) da Aliança Democrática
Nacional [ADN] indiana deu uma guinada de 180 graus abandonando a Política
Não-Alinhada e movendo-se abertamente para o campo de
EUA-Grã-Bretanha-israel. Depois disso, o governo da Aliança Progressiva
Unida [APU] (à esquerda) também pareceu estar lentamente seguindo a política
que começou com a ADN.
Em um nível mais elevado de geopolítica, a pergunta que precisamos fazer é:
são os atentados de Mumbai, assim como os atentados espanhóis, um aviso para
a coalizão governista mudar o curso de sua política, seja ela interna ou
externa?
Então, quem na verdade atacou o Taj Hotel?
Agora, se o que Ajmal Kasab disse é verdade, então, de entre os dez
terroristas que se infiltraram na India, quatro foram mortos e um foi
capturado vivo. Mas, e os 5 que escaparam? Será que todos os militantes
morreram? Ou é correto dizer, como muitos analistas assinalaram, que havia
na verdade 30 pessoas envolvidas nos ataques? Quem precisamente realizou
esses ataques no Taj, no Oberoi e na Nariman House simultaneamente,
coincidindo com a eliminação de Hemant Karkare, chefe do Esquadrão
Anti-Terror (EAT)?
Os dois alvos, o EAT e os três edifícios que foram selecionados, são
diagonalmente opostas em natureza e textura. O primeiro definitivamente não
é a favor do submundo ou das agências de inteligência estrangeiras que
desejam penetrar a Índia usando organizações militantes de direita como
camuflagem.
Os outros alvos mencionados, Taj e Oberoi hospedaram ’convidados ilustres’
durante a última semana de novembro de 2008. A maioria deles consistindo de
coordenadores de inteligência no sul da Ásia. Alguns nomes que se hospedaram
lá são: o antigo Secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger e membros de
elite da Equipe Econômica Global na Índia, do Presidente eleito Barack
Obama, que atenderam a "Conferência sobre a Política Externa Americana após
as Eleições". organizada pela Confederação da Indústria Indiana (CII) e pelo
Instituto Aspen Índia, em Mumbai.
O propósito dessa conferência na Índia, no Taj, era defender o projeto
planejado do gasoduto Irã-Paquistão-Índia. Apesar de fortemente contestado
pela administração Bush e pelo Inter-Serviços de Inteligência (ISI) do
Paquistão, no passado, Obama tinha planejado torná-lo uma ’peça central’ em
seu objetivo de alcançar a paz no sudeste asiático, e para o qual Kissinger
afirmara: "o gasoduto será uma coisa natural a fazer e espero que o novo
governo [chefiado por Obama] inicie discussões com o Irã".
Estriam esses convidados ilustres repensando como salvar as economias
ocidentais decadentes com o auxílio da Índia? Como frequentemente acontece,
um hábito da história é repetir-se; nos últimos 200 anos, sempre que o
Ocidente estava em apuros, as Empresas da Índia Oriental (EIO) ou os
subsequentes sócios diretores das EIO, roubaram da Índia recursos humanos e
naturais para a sua sobrevivência. Nesse ’grande jogo’, eles mantiveram
contidos outros agentes geopolíticos. Desde antes da última década, sob as
administrações APU e ADN, a política externa e a política econômica interna
indiana está chegando perigosamente perto dos interesses econômicos dos
EUA-britânico-israelense, vistos por outros agentes da geopolítica como uma
invasão. Teriam os outros agentes geopolíticos visto essa reunião como uma
penetração de seu território?
As áreas de inteligência, contra-inteligência, e proteção dos recursos
econômicos nacionais não é um jogo para todos. A Índia está apenas acordando
para isso, enquanto que o ocidente e outros agentes geopolíticos são
veteranos. É um jogo jogado pelas regras desses jogadores veteranos e nós
não podemos defini-las; mas, temos que entender e jogar por elas.
O livro "A Arte da Guerra", escrito por Sun Tzu, que é considerado por
muitos a bíblia da estratégia, diz: "Suponha o que o inimigo espera que
você faça e faça exatamente o oposto para ganhar a guerra". A citação parece
enganosamente simples; mas, tem implicações na sobrevivência dos governos e
impérios de grande envergadura.
Nessa perspectiva, seria insensato ceder à armadilha do inimigo, seja ela os
recentes ataques de Paris ou os ataques de Mumbai de 2008. Como é o caso com
muitos dos grupos terroristas, eles são controlados não só pelos Estados que
patrocinam o terrorismo, mas também pelas nações que patrocinam os Estados
que patrocinam o terrorismo. Portanto, apesar de que todas as provas
eventualmente levam à fronteira ocidental do norte da Índia, aprender quem
instiga esses grupos, suas ações, seu modus operandi e seu histórico
anterior nos guiaria a fazer o que nós, como um país soberano neutro do
Terceiro Mundo deve fazer. Esperamos virar logo nessa nova direção.
[1] “Paris Attacks: ISIS Supporters Celebrate, But Who’s to Blame?”, by Richard Engel and Jon Schuppe, NBC, November 14, 2015.
[2] “Modeled on Mumbai? Why the 2008 India attack is the best way to understand Paris”, Bruce Riedel, Brookings Institution, November 14, 2008.
[3] “There is similarity between Mumbai 26/11 and Paris attacks: Mumbai Police”, CNN-IBN Live, November 14, 2015.
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