A edição do jornal caraquenho El Universal se esgotou rapidamente, nas bancas do bairro Altamira, leste de Caracas, onde se concentra grande parte da oposição ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, que enfrentará um plebiscito revogatório no próximo dia 15 de agosto.
O jornaleiro, Pedro Gutierrez, explica por que o jornal vendeu mais do que o de habitual. A manchete do diário diz: "Bush recomenda transparência no revogatório". Gutierrez, que se orgulha da sua "janela privilegiada" como costuma dizer, onde escuta e vê a movimentação política da vizinhança, critica: "Bush não tem credibilidade alguma para fazer esse comentário".
O presidente estadunidense, George W. Bush, que nos últimos meses vinha sendo representado por seus secretários de estado para criticar a democracia venezuelana, dia 20, aproveitou a visita do presidente chileno, Ricardo Lagos, na Casa Branca, para dizer que o referendo deve ser conduzido de maneira "honesta e transparente".
"O governo venezuelano, para sua credibilidade, deve receber observadores e não deve interferir no processo. Dessa maneira os venezuelanos poderão expressar sua opinião, sem represálias" disse Bush.
A 25 dias do referendo revogatório que decidirá se Chávez continua comandando o país, a declaração de Bush reforça o cenário que há semanas vem sendo arquitetado pelos meios de comunicação privados: uma suposta intervenção do governo venezuelano no processo eleitoral.
A resposta de Chávez aos opositores tem sido clara. O governo garante que acatará os resultados do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e tem expressado que garantirá um resultado limpo. "Nenhum líder da oposição garantiu até agora que respeitará o árbitro", disse o presidente venezuelano.
"É imposivel, especialmente depois de um golpe de Estado auspiciado por potências imperialistas, que as decisões do povo sejas escamoteadas. O presidente Chávez é o primeiro interessado e beneficiado com um processo eleitoral justo e transparente", assegura o ministro de Relações Exteriores, Arnaldo Jesús Perez, em resposta oficial às declarações de Bush. "Na Venezuela ganhará quem mais tiver votos", reitera.
O governo, principal interessado nos novos eleitores que tinham até 10 de julho para registrarem-se no órgão eleitoral, segue a mercê do trabalho dos funcionários do CNE, encarregados de transferir os dados para as listas eleitorais. De acordo com o historiador Samuel Moncada, coordenador internacional da campanha do governo, as inscrições realizadas nos postos intinerantes podem não ser contabilizadas a tempo do referendo. "As inscrições intinerantes são as dos possíveis eleitores de Chávez e justamente no cadastro destas pessoas é que está havendo lentidão, o que dificultar a participação de cerca de 2 milhões de eleitores", afirma Moncada.
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Se na Venezuela, a lisura dos resultados será creditada pela presença de observadores internacionais, como afirma Washington, nos EUA a "transparência" das eleições de 2 de novembro, será dada com a ausência deles. Dia 15, a Câmara de Representantes dos EUA aprovou, por 243 votos a 161 uma emenda para que nenhum representante oficial solicite uma intervenção das Nações Unidas durante o pleito.
A senadora Corrine Brown, do Partido Democrata da Flórida, que qualifica as eleições que elegeram Bush em 2000, de "golpe de Estado dos EUA" protestou: "Necessitamos assegurar que isso não aconteça outra vez. Queremos uma verificação do mundo".
Brown é uma das representantes da comunidade negra do Estado da Flórida, de onde a maioria dos 185.000 votos nunca foram contabilizados. Cerca de 70% desses votos eram provenientes da população afroamericana, a qual apenas 9% em todo o país apoiou a Bush.
Na Venezuela, a consulta popular será observada pelas Nações Unidas. A missão da Organização dos Estados Americanos (OEA), que deve chegar ao país no próximo dia 23, será chefiada pelo embaixador brasileiro, Valter Pecly Moreira.
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