De Porto Alegre a Caracas. A capital gaúcha, sede do Fórum Social Mundial por quatro vezes, era bastante atrativa: cidade limpa, planejada, com um sistema de transporte público eficiente, verde, lagos, ares de progresso. Caracas é o seu oposto.
Caótica, desordenada pela falta de um urbanismo planejado. Mas, na cidade brasileira, a marca do avanço político institucional não ia além do questionável orçamento participativo. Já na capital venezuelana, um processo revolucionário aguarda as mais de 100 mil pessoas que deverão participar, entre os dias 24 e 29 de janeiro, da sexta edição do Fórum Social Mundial e da segunda do Fórum Social das Américas.
Diferentemente dos anos anteriores, o Fórum Social Mundial de 2006 será policêntrico. O primeiro evento acontece na cidade de Bamako, Mali, na África, de 19 a 23 de janeiro. Em seguida, em Caracas, Venezuela. O terceiro evento, no Paquistão, foi adiado por conta do terremoto que abalou o país em outubro passado.
Transformação
A expectativa em relação ao Fórum em Caracas é grande tanto para os estrangeiros, que poderão conhecer o processo político do país como para os venezuelanos. A diferença fundamental com os países que sediaram o encontro anteriormente é que, na Venezuela, com maior ou menor êxito, os temas discutidos estão presentes no cotidiano das pessoas. Economia solidária, reforma agrária, cooperativismo, tecnologias de informação independentes, comunicação comunitária, controle de capitais, luta antiimperialista, todas essas questões, entre erros e acertos, estão sendo incorporadas à revolução bolivariana.
Para o sociólogo Edgardo Lander, do Comitê Organizador do FSM Caracas, as atividades vão contribuir para o aprofundamento do processo venezuelano. "O processo de transformação que vivemos não é fruto somente das lutas do nosso povo. Aqui havia um acúmulo de forças e experiências dos demais países. É fundamental que os venezuelanos conheçam as outras experiências para romper com essa ’vaidade’ vanguardista", analisa. Por outro lado, o sociólogo acredita que o encontro entre o Estado e as organizações sociais é um bom exemplo de como se pode alinhar os dois trabalhos para transformar a realidade dos povos.
Além disso, Lander afirma que um dos aspectos positivos da realização do encontro na Venezuela é que os movimentos sociais de todo o mundo poderão avaliar de perto a revolução bolivariana, independentemente da publicidade do governo ou da campanha opositora da direita e do imperialismo estadunidense.
Apoio aos movimientos
A realização do Fórum em Caracas também é a consolidação de um processo. Nos últimos anos, o presidente do país, Hugo Chávez, manifestou apoio aos movimentos sociais latino-americanos e, mais do que isso, alinhou suas políticas à reivindicação das organizações populares. A Venezuela é o país da América Latina onde "há mais debate sobre a superação do neoliberalismo", analisa Gustavo Codas, integrante do Comitê Organizador do Fórum e da Secretaria de Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Segundo ele, a sexta edição do encontro será marcada pela discussão do crescimento do número de governos com plataformas antineoliberais, como na Venezuelana e na Bolívia, com a recente vitória de Evo Morales. O FSM em Caracas colocará em pauta um desafio permanente dos movimentos sociais: construir mecanismos capazes de concretizar as ações discutidas durante o encontro. "Temos de garantir que, além da troca de idéias, esse encontro seja o cenário de alianças claras, potencializando intervenções em assuntos econômicos e sociais. Temos que nos articular para ter mais impacto no que está ocorrendo no Iraque ou na Organização Mundial do Comércio (OMC)", opina o sociólogo filipino Walden Bello.
De acordo com Gustavo Codas, durante o evento, serão definidas campanhas internacionais para 2006 e 2007. Entre elas, destacamse quatro temas: o primeiro é a discussão sobre livre-comércio e "aquilo que a OMC não conseguiu resolver em Hong Kong em dezembro passado"; o segundo, uma campanha de repúdio ao aniversário de ocupação dos Estados Unidos do Iraque, com manifestações no dia 18 de março. O terceiro eixo são as ações contra a dívida externa, o Fundo Monetário Internacional (FMI) o Banco Mundial; e o quarto, mobilização na reunião do G8 em São Petersburgo, na Rússia, em julho.
Fórum Social Mundial 2006
Abertura: 24 de janeiro Marcha contra o imperialismo e a guerra
Encerramento: 29 de janeiro Assembléia Mundial dos Movimentos Sociais
Atividades inscritas: 500 mil
Atividades culturais: 200
Eixos temáticos:
- Poder, política e lutas pela emancipação social
- Estratégias imperiais e resistências dos povos
- Recursos e direitos para a vida: alternativas ao modelo civilizatório depredador
- Diversidades, identidades e cosmovisões em movimento
- Trabalho, exploração e reprodução da vida.
- Comunicação, culturas e educação: dinâmicas e alternativas democratizadoras
Eixos transversais:
- Gênero
- Diversidade
Tendas da solidariedade:
Serão montadas dez tendas de solidariedade abordando temas como: Alba, Brasil, Pobres dos Estados Unidos, Palestina, Juventude, Congresso Bolivariano dos Povos, Mercosul entre outros
Algumas personalidades e movimentos:
- Hugo Chávez
- Evo Morales
- Néstor Kirchner
- Luiz Inácio Lula da Silva (a confirmar)
- Eduardo Galeano
- Atilio Borón
- Emir Sader
- John Holoway
- François Houtard
- Noam Chomski (a confirmar)
- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
- Exército Zapatista de Liberação Nacional (EZLN) (a confirmar)
A Venezuela Bolivariana
- Desemprego:10,9 %
- Alfabetizados: 100%
- População:25,4 milhões
Programas sociais:
– Missão Robinson 1 e 2 - alfabetização e ensino básico
- Missão Ribas - ensino médio
- Missão Sucre - preparação para ingressar ao ensino superior
- Universidade Bolivariana - ensino superior gratuito
- Missão Vuelvan Caras
- Formação técnica para criação de cooperativas agrícolas, texteis, alimentação e calçados.
- Missão Mercal - Alimentos a baixo custo subsidiados pelo governo
- Bairro Adentro - Assistência médica gratuita
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