O sol ainda nao havia caído quando mais de 10 mil pessoas tomaram as ruas de Quito, Ecuador, dia 28, com um objetivo comum: uma América Latina livre e soberana.
As cores das bandeiras de diversos países do continente e de seus movimentos sociais, de camponês, indígena, sindical, gay, mulheres, ecologistas - formaram um arco-íris étnico que abraça o I Forum Social das Américas, realizado entre os dias 25 e 30.
A manifestação convocada para rechaçar o Acordo de Livre Comércio das Américas (ALCA) cedeu espaço para que os problemas gerados com a aplicação das políticas neoliberais fossem aclarados. “Não podemos permitir que nossa água e nossas sementes ancestrais sejam patenteados pelas transnacionais. Temos que lutar pela liberdade de nossos povos e de nossos recursos naturais”, afirma a ecuatoriana Marta Orozco, da comunidade indígena Quexua Aimará.
Entre as faixas de protesto contra a privatização do gás boliviano, dos minérios do Peru, da ação de paramilitares na Colombia, pela diversidade sexual, um jovem indígena carregava o exemplo de que a sonhada unidade latinoamericana esta em vias de fato.
Um jovem indígena boliviano, Elias Nieto, 18 anos, que carregava uma faixa pela demarcação das terras indígenas do Brasil, mostra que a luta dos povos não tem fronteiras. “Somos só um. A luta dos indígenas no Brasil e a nossa também. Com isso mostramos aos governos que estamos unidos e que temos força para lutar”, diz Nieto.
Em meio ao coro que marcou a marcha “Não queremos e não nos dá na gana, ser uma colônia norte-americana”, ativistas do movimento gay circulavam entre a multidão com asas coloridas, simbolizando borboletas, cheias de cor e alegria. “Vejam, vejam, que coisa mais bonita, o povo organizado, lutando pela vida”, gritavam os manifestantes enquanto passavam pelo Ministério de Comércio e Desenvolvimento, um dos símbolos da concentração de recursos no Ecuador.
Repressão
Ao início da marcha um momento de tensão com a polícia. Os manifestantes foram impedidos de seguir pelo parque Arbolito que cerca a embaixada dos Estados Unidos. Abaixo de protestos, principalmente das comunidades indígenas liderada pela presidente da Conaie, Blanca Chancoso, a barreira de ferro que detinha os manifestantes foi retirada.
No en tanto, ao mesmo tempo em que os manifestantes tomavam a frente da embaixada dos Estados Unidos, um caminhão blindado da polícia avançou sobre as pessoas. Felizmente, ninguém se feriu. “Era de se esperar isso, eles estao defendendo seus interesses, defendem os EUA mais do que se fossem soldados norte-americanos”, critica o camponês Jose Encalada, do Ecuador.
O incidente não foi suficiente para conter a alegria dos ativistas, que caminharam cerca de 4 horas pelas ruas da cidade, onde a cada esquina se via a avalanche de redes transnacionais de hotel, restaurantes e automóveis.
Ao final da marcha, um grupo de manifestantes encapuzados voltaram ao Ministerio de Comércio e lançaram pedras contra o edifício. Os policiais lançaram bombas de gás de pimenta em direção aos manifestantes. Centenas de pessoas correram para se proteger da fumaça que quase não deixava respirar e marejava os olhos. A multidão se dissipou, mas a marcha é apenas uma de uma sèrie de mafestações que os movimentos sociais de todo o continente irão realizar nos próximos meses para barrar os acordos de livre comércio. Eles seguem pelas ruas por um outro mundo possível
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