Enquanto governos da Argentina e dos EUA começam a montar monstruosa estrutura de segurança em Mar del Plata para a IV Cúpula das Américas, organizações sociais lançam sua própria Cúpula dos Povos. E programam uma greve geral e muitos protestos.
“Túneis secretos, espiões disfarçados, franco-atiradores postados nas torres mais altas, passantes revistados pela polícia, operários por todo lado, e muito, muito medo. Três meses antes da IV Cúpula das Américas (evento patrocinado pela Organização dos Estados Americanos - OEA) que, nos dias 4 e 5 de novembro, levará a Mar Del Plata o presidente dos EUA, George Bush, e outros 34 mandatários do continente, a cidade amanhece cada dia envolta em rumores que se misturam a surpreendentes dados sobre o operativo de segurança que se está pondo em marcha”.
Assim o jornal argentino El Clarín começa matéria publicada nesta segunda (1) sobre os preparativos da Cúpula da OEA. A segurança dos chefes de Estado, em especial a de Bush, aliás, vem ocupando reiteradamente as páginas dos jornais argentinos. Os custos totais do evento, a serem cobertos pelos governos federal e de Buenos Aires, chegam a cerca e 120 milhões de pesos. Só para a segurança, estão previstos 10 milhões (cerca de R$ 8,2 mi).
Ainda segundo o El Clarin, a segurança deverá ser garantida por um contingente de 7,5 mil policiais argentinos e cerca de 2,5 agentes trazidos pelos respectivos chefes de Estado, além dos serviços de inteligência dos países participantes (com predominância da CIA e do FBI americanos). Mas desde já, em Mar Del Plata a polícia estaria parando e revistando as pessoas e buscando melhores posições para seus franco-atiradores. Enfim, entre os moradores da cidade não se sabe mais se o medo maior é o do contingente de segurança e repressão, ou de ataques terroristas atraídos pelo “imã” Bush.
Cúpula dos Povos
Enquanto isso, movimentos e organizações sociais da América Latina se preparam para levar à cidade, entre os dias 30 de outubro e 5 de novembro, cerca de 20 mil ativistas, entre indígenas, sindicalistas, estudantes e militantes contra a ALCA, para atividades de debate e protestos.
De 30 de outubro a 1o de novembro, organizações indígenas do continente realizarão a Cúpula Continental dos Povos e Organizações Indígenas, atividade que se contrapõe a outro evento, a Cúpula Indígena de Buenos Aires, patrocinada pelo governo canadense.
“Esta Cúpula (do governo do Canadá) tem como objetivo usar as organizações indígenas (...) através de uma agenda manipuladora e orientada para converter nossa cultura e nosso território em mercadoria. A intenção é muito clara: dividir o movimento indígena e separar-nos da sociedade civil e dos povos que acudirão aos milhares a Mar Del Plata, para debater o futuro e denunciar a política globalizadora que foi imposta ao nosso continente”, afirma comunicado dos movimentos indígenas.
O comunicado acima faz referência à III Cúpula dos Povos, evento que ocorre de 1o a 5 de novembro, chamado por organizações como a Via Campesina, a Aliança Social Continental, a Campanha Jubileu Sul, Campanha Continental Contra a ALCA, Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso), centrais sindicais, entidades estudantis, entre outros.
Lançada nesta terça (2) em Buenos Aires por personalidades como o prêmio Nobel da Paz, Adolfo Perez Esquivel, e o presidente da Central Sindical da Argentina (CTA), Victor de Gennaro, a III Cúpula dos Povos não deve ser, segundo seus organizadores, um “evento paralelo” à Cúpula dos presidentes. Nem deve discutir ou interagir com ela, como algumas ONGs convidadas para representar a sociedade civil neste evento.
Nos moldes dos encontros do Fórum Social Mundial, a Cúpula dos Povos terá atividades de debates auto-gestionadas e uma assembléia dos movimentos sociais, e deve contar com uma participação de cerca de 20 mil pessoas de grande parte dos países americanos.
No dia 4, os ativistas devem promover um grande protesto contra o presidente dos EUA, George Bush, tanto em mar Del Plata quanto em outras cidades Argentinas. O diretor sindical Victor de Gennaro também confirmou a intenção da CTA de realizar uma greve geral no país neste mesmo dia.
Carta Maior
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