Contra o imperialismo e a guerra. Entre os dias 8 e 15 de agosto, a capital Caracas estará tomada por cerca de 15 mil jovens de dezenas de países que discutirão os temas que pautam a agenda dos grupos de resistência mundial: imperialismo, guerra, neoliberalismo, endividamento externo, integração e obviamente, o processo de mudanças no país anfitrião. Será o XVI Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes (FMJE).
Caras desconhecidas e deslumbradas circulam pelas ruas onde a resistência contra o imperialismo está presente nos muros e no discurso da maioria dos venezuelanos, que mantém a revolução bolivariana. Nas oficinas, seminários e conferências, nada de muito novo. Trata-se da mesma estrutura do Fórum Social Mundial, com nova roupagem para um público mais segmentado.
A troca de experiências entre os jovens e a necessidade de criar redes capazes de efetivar as propostas encaminhadas são aspectos que têm cercado as discussões. Nesse sentido, o encontro pode ser um diferencial em relação a Porto Alegre. “É crucial que consigamos desenvolver mecanismos de trabalho articulados, com propósitos comuns”, avalia Carlos Aquino Galeano, coordenador da Comissão Política do Comitê Nacional Preparatório, para quem o Festival é estratégico para a juventude venezuelana.
Acampamentos
A juventude organizada no bairro 23 de Janeiro - um dos mais combativos da capital venezuelana e que carrega um legado de luta e resistência - resolveu criar um espaço autogestionado para as discussões que “ficaram por fora” do programa oficial. O Acampamento Internacional Bolivariano será um espaço aberto de discussão onde todas as noites estarão reunidos cerca de 300 jovens alojados na escola pública que deu lugar ao acampamento e a quem mais queira participar. A idéia é que, além dos delegados do Festival, as comunidades dos bairros próximos ao acampamento possam participar e trocar experiências.
No país onde a concentração da propriedade da terra é uma das barreiras para o avanço do processo de mudanças, está prevista na programação do acampamento uma discussão entre o movimento camponês da Venezuela, Frente Nacional Ezequiel Zamora, o movimento zapatista e os jovens do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sobre o direito à terra e os distintos processos de luta de cada organização.
“Socialismo não se faz em laboratório, e sim com o povo. Por isso, precisamos aprender para fazer avançar a luta, que é a mesma, aqui ou em qualquer país”, comenta Maria Fernanda Romero, estudante da Universidade Bolivariana, durante a recepção aos 22 jovens do MST recém-chegados à Venezuela.
História
O primeiro Festival Mundial da Juventude foi realizado em Praga, capital da antiga Tchecoslováquia, em 1947, dois anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Na época, reuniram-se mais de 20 mil jovens de 72 países que tinham como principal bandeira de protesto a oposição à “Doutrina Truman” e ao bombardeio atômico contra Hiroshima e Nagasaki (em agosto de 1945).
Os jovens também assumiam o compromisso de eliminar qualquer resquício dos regimes nazistas e fascistas. O Festival surgiu com um caráter essencialmente antiimperialista e de solidariedade aos povos que lutam por sua independência e autodeterminação.
Mais de meio século depois, o inimigo continua o mesmo. O país sede do Festival resiste contra uma campanha de desestabilização orquestrada pelos Estados Unidos e vive sob ameaças de intervenção por afetar os interesses políticos e econômicos de Washington, ao difundir a idéia de que um governo popular pode caminhar por outra via que não a da subserviência ao império.
Doutrina Truman - Encabeçada pelo presidente estadunidense Harry Truman, marcou o início da Guerra Fria e a determinação de Washington de acabar com o comunismo para garantir o avanço do capitalismo mundial
“Vamos construir o novo socialismo”, diz Chávez
No discurso de abertura do XVI Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, o presidente Hugo Chávez convocou os jovens para a construção do socialismo do século 21. O venezuelano avaliou que o mundo e o continente latinoamericano estão em uma época de grandes oportunidades e são percorridos por novas correntes revolucionárias.
“Estou profundamente convencido de que, apesar de as décadas passadas terem sido muito exigentes, na atualidade renasce no ser humano a idéia da paz, da igualdade e da luta contra a exploração do homem pelo homem”, afirmou Chávez.
Diante de 15 mil delegados do fórum estudantil, reunidos no Pátio de Honra da Academia Militar, o presidente venezuelano lembrou que há 60 anos ocorreu o maior ato terrorista da história - uma referência explícita ao ataque que os Estados Unidos fizeram contra Nagasaki e Hiroshima, com bombas nucleares, em agosto de 1945. A respeito do socialismo do século 21, Chávez retomou as idéias do presidente chileno Salvador Allende, morto em 11 de setembro de 1973. “Um socialismo, como disse Allende, que permita abrir as grandes alamedas onde poderá transitar o homem novo”, disse o chefe de Estado.
Para Chávez, o encontro dos jovens, além da “alegria e da esperança”, será um cenário adequado para o debate de idéias e busca de horizontes. Segundo o presidente venezuelano, o desafio gigantesco da humanidade é salvar o mundo ameaçado pela voracidade do imperialismo estadunidense.
Permaneçam em Contacto
Sigam-nos nas Redes Sociais
Subscribe to weekly newsletter