Semanário diz que planos do Pentágono são “enormes, febris e operativos”, com dois objetivos centrais: destruir as instalações nucleares iranianas e derrubar o governo de Mahmoud Ahmadinejad. Analista russo diz que data provável de um ataque seria entre setembro e outubro, antes das eleições legislativas nos EUA, marcadas para novembro.
O governo dos Estados Unidos planeja atacar as instalações nucleares iranianas de Natanz, inclusive com o emprego de armas nucleares, afirma a revista "New Yorker", em sua edição desta semana. Uma fonte citada pelo semanário disse que os planos do Pentágono são “enormes, febris e operativos”, com um objetivo central: derrubar o governo iraniano e alterar a estrutura de poder no país através da guerra.
O artigo, escrito pelo jornalista Seymour Hersh, diz que o presidente George W. Bush considera o novo líder iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, um “Adolf Hitler em potencial”. O primeiro sinal sobre o ataque teria sido dado em março deste ano quando a Casa Branca relançou a doutrina de ataques preventivos, segundo a qual os EUA se atribuem o direito de atacar qualquer país caso considere-o um risco potencial. O Irã é a bola da vez, garante o articulista da "New Yorker".
A administração Bush, diz Seymour Hersh, enquanto advoga publicamente meios diplomáticos para resolver a crise com Teerã, já está realizando atividades clandestinas dentro do território iraniano e acelerando o planejamento para um grande ataque aéreo ainda esse ano. Comandos da Força Aérea norte-americana já teriam sido infiltrados em solo iraniano para identificação de alvos e estabelecimento do contato com grupos de oposição ao governo de Ahmadinejad.
Hersh cita uma declaração feita por Patrick Clawson, especialista em assuntos iranianos e conselheiro da Casa Branca: “a administração Bush está realizando esforços diplomáticos, mas o Irã não tem outra escolha – ou aceita a demanda de interromper o seu programa militar ou terá que enfrentar um ataque militar”. Levando e conta a disposição de Teerã de não ceder às pressões de Washington a questão não é mais se ocorrerá ou não um ataque, mas sim quando ele se dará.
UMA GUERRA PRÉ-ELEITORAL?
A nova versão da Estratégia de Segurança Nacional, divulgada em março, identifica claramente o governo de Teerã como o principal adversário dos EUA hoje. “Não enfrentamos nenhum desafio maior do que aquele representado por um só país, o Irã”, diz o texto de 48 páginas, apresentado pelo conselheiro de Segurança Nacional, Stephen Hadley.
O analista político Piotr Goncharov, da agência de notícias russa Novosti, avalia que, caso os planos de ataque estejam de fato em marcha, a data mais provável de sua execução seria entre os meses de setembro e outubro deste ano. Em novembro serão realizadas eleições para o Congresso norte-americano e a administração Bush contaria com o ataque para uma vitória expressiva dos republicanos. E o governo iraniano, segundo Goncharov, está levando muito a sério essa possibilidade e também começa a se preparar para a guerra. Em março, promoveu exercícios navais de grande envergadura, intitulados “O Grande Profeta”, e apresentou novas armas de seu arsenal.
Testou com sucesso, por exemplo, o míssil anti-aéreo “Misag 1”, dotado de um sistema de orientação térmica com capacidade de mudar de direção em alta velocidade. Também apresentou o míssil terra-mar “Kousar”, de médio alcance, dotado de sistemas de busca e guiado à distância que não pode ser destruído por instrumentos de guerra eletrônica. E testou ainda o míssil balístico “Fajr 3”, invisível para os radares, e o torpedo “Hut”, capaz de desenvolver uma velocidade de 100 metros por segundo na água.
Ao anunciar o êxito das manobras e dos testes, o governo iraniano quis mandar um recado ao mundo e, particularmente, aos EUA: “o menor atentado contra os interesses do Irã no Golfo Pérsico será rechaçado prontamente desde água, terra e ar”. Teerã pretende demonstrar, segundo Goncharov, que controla o setor do Golfo Pérsico por onde passa 80% do petróleo extraído na região, ou seja, o estreito de Ormuz.
A FORÇA DOS EUA NA REGIÃO
Mas os EUA e seu principal aliado na região, o governo de Israel, não acreditam, segundo o analista russo, que Teerã possa fazer frente a uma ofensiva militar. Contam, ao fazer esse diagnóstico, com sua superioridade militar. Os EUA dispõem hoje naquela área de seis grupos navais, comandados por porta-aviões, seis deles baseados diretamente no Golfo Pérsico e outros dois na costa sul do Mediterrâneo. Cada um destes grupos possui de 80 a 90 aviões de última geração, contra os 360 aviões já ultrapassados de que dispõe a Força Aérea do Irã. Segundo especialistas militares, de 40 a 60% das aeronaves iranianas apresenta problemas técnicos. Essa correlação de forças, diz Goncharov, garantiria aos EUA o domínio aéreo em toda a região do Golfo Pérsico, como aconteceu durante a invasão do Iraque.
O Irã, ainda na avaliação do analista russo, tenta ganhar tempo para retardar o máximo possível o que parece ser inevitável: a adoção de sanções pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, o que daria aos EUA um “pretexto legal” para lançar um ataque contra Teerã. O governo iraniano tenta convencer a comunidade mundial e a Agência Internacional de Energia Atômica que seu programa nuclear tem fins pacíficos.
EUA e Israel, no entanto, não acreditam nisso e afirmam que o Irã está correndo rapidamente para dominar o processo de enriquecimento de urânio e produzir armas nucleares. Os dois países já disseram com todas as letras que não permitirão que isso ocorra. E o governo iraniano parece não ter dúvidas sobre a realidade dessa ameaça e também dá claros sinais que se prepara para a guerra.
NÃO HÁ CAUSA PARA GUERRA, DIZ CHANCELER BRITÂNICO
Neste domingo (9), o jornal iraniano “Jomhuri Eslami” informou que um avião espião não-tripulado foi derrubado na fronteira com o Iraque. “O avião decolou do território iraquiano e filmava a região fronteiriça”, afirmou o jornal. Em Londres, o ministro britânico das Relações Exteriores, Jack Straw, rechaçou a idéia de que uma operação militar contra o Irã já estaria em marcha. “Vamos ser claros. Não há ‘casus belli’ (justificativa para uma guerra). Não podemos estar seguros das intenções dos iranianos em matéria militar, por isso não há fundamento para que alguém decida uma ação militar”, disse Straw em uma entrevista à rede BBC.
Nos EUA, no entanto, o jornal “Washington Post”, citando analistas militares independentes, disse que o Pentágono e a CIA já estudam possíveis alvos iranianos, como a usina de enriquecimento de urânio de Natanz e as instalações de conversão de urânio de Ispahan. Considerando o comportamento das autoridades britânicas e norte-americanas no período que anteceu a segunda guerra do Iraque, as declarações oficiais perderam totalmente a credibilidade. A multiplicação de matérias e artigos na imprensa internacional tornam cada vez mais altas as batidas dos tambores para mais uma guerra no Golfo Pérsico, de conseqüências imprevisíveis.
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