Enquanto o Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, acaba de propor um
acordo com os líderes da República Popular de Donbas, Andrew Korybko
discorre sobre as razões para a revolta: não é simplesmente uma questão de
se recusar a reconhecer o governo do golpe de estado em Kiev, mas uma
tentativa de afastar um projeto oficial, que implica a limpeza étnica das
populações de língua russa.
No aniversário do centenário dos indivíduos "russofílicos" (rusyns) da
moderna Ucrânia que foram enviados para campos de concentração, a história
parece estar a repetir-se mais uma vez. O Ministro da Defesa ucraniano
manifestou publicamente o seu plano para encurralar os cidadãos de Donbas em
campos especiais de "filtração", antes de forçosamente reinstalá-los em
diferentes partes da Ucrânia.
Alguns dias depois,o Primeiro-Ministro ucraniano Yatsenyuk declarou que os
pro-federalistas no Oriente eram "sub-humanos".
Esta escolha de palavras não apenas não foi condenada pelos patronos
americana de Kiev, mas na verdade foi defendida pela porta-voz do
Departamento de Estado Jen Psaki, que estranhamente disse que Yatsenyuk "tem estado consistentemente a apoiar uma resolução pacífica" [1]. Levantando preocupações
ainda mais sérias de que uma limpeza completa está sendo planejada, a
agência de terras da Ucrânia disse que estará dando "terra de graça", no
leste, para os militares, pessoal do Ministério do Interior e tropas dos
Serviços Especiais que estão lutando contra os federalistas [2]. Com a Ucrânia prestes a ter uma limpeza étnica e cultural em grande escala, pode-se imaginar às custas de quem será dada essa Lebensraum [Lebensraum: palavra alemã que significa espaço vital (tamanho físico) e populacional possuidor de vastos recursos naturais necessários para que um Estado-nação possa ser uma potência - NT] como "terra livre".
A primeira vez que pessoas de uma suposta afiliação pró-russa foram reunidas
e enviadas a campos de concentração foi em 1914. Os austríacos prenderam
rutenos e lemkos em Thalerhof porque sua auto-identificação foi vista como
traição. Da mesma forma, a auto-identificação dos povos de Donbas está
também a ser vista agora como traição, pelo menos de acordo com o Ministro
da Defesa da Ucrânia, Mikhail Koval. Ele foi nomeado para sua posição após a
demissão do seu antecessor, após a reunificação da Rússia e da Criméia [3]. A declaração extrema de Koval sobre sua intenção para com o povo de Donbass também valida prévias preocupações da Rússia, em março, elaboradas no Livro Branco sobre as Violações dos Direitos Humanos na Ucrânia [4], de que a Criméia estava enfrentando uma iminente crise humanitária antes da reunificação. Se Criméia não tivesse se defendido e reunificado com a Rússia, agora que os planos de
’resolução’ pós-crise do Ministério da Defesa ucraniano se tornaram
públicos, é muito provável que seus cidadãos já estariam presos em um
acampamento especial de "filtração" de alguns tipo e forçosamente removidos
de sua região de origem (se sobrevivessem à provação).
O que Koval propôs fazer aos cidadãos de Donbas é completamente ilegal sob a
lei internacional e caracterizado como crime contra a humanidade. Deportação
forçada e transferência de uma população, aprisionar sem outra razão senão
seu endereço, e, especificamente, alvejar um grupo étnico e cultural são
explicitamente proibidos conforme o artigo 7. º do Estatuto de Roma. Talvez
porque Yatsenyuk e outros em sua administração acreditem que os
manifestantes no leste são "sub-humanos", eles não sentem que "direitos
humanos" se aplicam a eles. Por conseguinte, esses "sub-humanos" não terão
direito à sua antiga propriedade também (devido a reinstalação forçada);
então, é provável que suas casas e negócios serão a "terra livre" que Kiev
prometeu a seus capangas militantes implantados no leste.
De acordo com o governo russo, centenas de milhares de ucranianos buscaram
asilo na Rússia desde o início da crise. Eles são hospedados por suas
famílias e amigos. No entanto, as autoridades ocidentais refutam esse número
porque eles não são agrupados em campos de refugiados.
Essa flagrante violação dos direitos humanos fundamentais é absolutamente
ignorada pelos governos ocidentais, que geralmente são os primeiros a
prematuramente denunciar qualquer violação suspeita dos direitos humanos e a
ameaçar de intervenção militar. Agora, vê-se que a retórica e os slogans da
Intervenção Humana/Responsabilidade de Proteger (HI/R2P - ’Human
Intervention/Responsibility to Protec’) são nada mais do que charadas para
perseguir fins geopolíticos ulteriores. Na verdade, ao contrário de suas
estabelecidas "credenciais" de HI/R2P, o Ocidente, particularmente os EUA,
está na verdade ajudando e é cúmplice com o regime de Kiev que planeja
realizar a limpeza [5].
Conselheiros militares, milhões em fundos e apoio da CIA e do FBI têm
inundado na Ucrânia desde o golpe de estado, e, mais do que provável, serão
todos dirigidos para o leste para reprimir violentamente os manifestantes
federalistas [6]. Desta
forma, os EUA são diretamente cúmplices em todos e quaisquer crimes de
guerra que as forças convencionais ou mercenárias de Kiev realizem, até e
incluindo os planos de limpeza étnica e cultural de Koval. Assim, o povo de
6 milhões de Donbas depara-se com o mesmo tipo de catástrofe humanitária que
acreditava-se ter sido para sempre derrotado da Europa há quase 70 anos.
[1] « Daily Press Briefing », State Department, Jun 16, 2014.
[2] "Ukraine’s Land Agency give land to soldiers in the east for free ", Interfax Ukraine, 16 juin
2014.
[3] « Ukraine fires defense minister who lost Crimea to Russia», par Kathy Lally, The Washington Post, 25 mars 2014.
[4] "The White Book on Violations of Human Rights and the Rule of Law in Ukraine ", Voltaire Network, 5 May 2014.
[5] "Russia’s investigators
pledge to prosecute those guilty in civilians’ deaths in Ukraine", Itar-Tass, 30 mai 2014.
[6] "Russia urges US to
stop involvement of mercenaries in conflict in Ukraine ", by Natalia Kovalenko, The
Voice of Russia, June 6, 2014.
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