As acrobacias notáveis do soldado de infantaria a voar durante a parada militar de 14 de Julho de 2019 encobrem a criação de um comando militar do Espaço. Depois da Rússia, da China e dos Estados Unidos, a França é a quarta potência militar a investir numa área que estava, em princípio, livre de armas nucleares. Não por muito mais tempo.
"O homem voador deslumbra Paris no desfile de 14 de Julho": com títulos como este, foi descrito o desfile das forças armadas francesas ao longo da avenida dos Campos Elísios. Como de costume, parece estarmos informados de tudo até aos mínimos detalhes. Mas a "grande informação" esconde-nos o que, pelo contrário, seria essencial sabermos.
Por exemplo, que, dois dias antes da parada o Presidente Emmanuel Macron esteve presente no porto de Cherbourg, lançando um submarino de ataque nuclear, o Suffren, o primeiro da nova série Barracuda, construído com um programa de dez anos cujo custo é de 9 biliões de euros. O submarino, armado com mísseis de cruzeiro de longo alcance de dupla capacidade, convencional e nuclear e dotado de um mini-submarino para operações das forças especiais, foi descrito pelo Almirante Christophe Prazuck como "um caçador nascido para combater inimigos".
Entre os 700 convidados internacionais na cerimónia do lançamento estava a Ministra da Defesa da Austrália, Linda Reynolds que, em Fevereiro assinou um contrato para comprar 12 submarinos de ataque franceses. Na Austrália, neste período, está a discutir-se a possibilidade do país abandonar o Tratado de Não-Proliferação e ter o seu próprio arsenal nuclear.
A Austrália, parceira da NATO, é contra o Tratado ONU sobre a Proibição de Armas Nucleares, aprovado em Julho de 2017 pela Assembleia Geral da ONU com 122 votos a favor. Até agora foi assinado por 70 países, mas ratificado por apenas 23 (incluindo Áustria, Cuba, México, Nova Zelândia, África do Sul, Venezuela), menos de metade dos 50 países necessários para a sua entrada em vigor.
A Suécia, que o aprovou em 2017, anunciou que nem sequer o assinará: uma decisão por trás da qual está a influência da NATO, inimiga acérrima do Tratado ONU sobre a Proibição de Armas Nucleares.
Enquanto o desarmamento nuclear permanece no papel, aumenta a possibilidade de proliferação e a corrida armamentista desenvolve-se, cada vez mais, no plano qualitativo. Confirma-o o anúncio feito na véspera do desfile de 14 de Julho, pelo próprio Presidente Macron: a França criará em Setembro, um novo Comando Nacional da Força Militar Espacial, com uma primeira atribuição de 3,6 biliões de euros. "A nova doutrina militar e espacial, proposta pelo Ministro da Defesa e aprovada por mim, constitui uma verdadeira questão de segurança nacional", declarou o Presidente Macron [1].
Intensifica-se, assim, a militarização do Espaço, área de importância estratégica crescente, dado que os principais sistemas de armas, a começar pelas armas nucleares, dependem dos sistemas espaciais. Com o seu novo comando espacial, a França permanece no rumo dos Estados Unidos.
O Presidente Trump assinou em Fevereiro uma directiva que estabelece a US Space Force (Força Espacial dos EUA), força específica para operações militares no Espaço, dirigida, principalmente, contra a Rússia e contra a China. A Comissão Senatorial para as Forças Armadas, atribuindo à Força Aérea o comando da nova Força, definiu o Espaço como uma "área para conduzir a guerra".
As negociações promovidas pelas Nações Unidas em Março a fim de evitar uma corrida armamentista espacial, falharam devido à oposição dos Estados Unidos. Eles recusam abrir uma mesa de negociações para discutir o projecto do Tratado, apresentado pela Rússia e pela China, que proíbe a colocação de armas no Espaço e estabelece um conjunto de limites legais para seu uso para fins militares.
Enquanto a atenção mediática está concentrada no "homem voador" que gira sobre os Champs Elysées, ignora-se o facto de que, em pouco tempo, haverá armas nucleares a voar, em órbita ao redor da Terra, sobre as nossas cabeças.
[1] « Discours d’Emmanuel Macron aux armées », par Emmanuel Macron, Réseau Voltaire, 13 juillet 2019.
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