Os Britânicos derrubaram os Kadjar e colocaram um oficial do seu exército à guisa de Xá. Inquietos pelas suas amizades pro-germânicas, destituíram-no durante a Segunda Guerra Mundial em favor do seu filho. Este, consciente de não valer grande coisa, convocou em 1971 um terço dos soberanos, chefes de Estado e de governo do planeta, para celebrar os 2.500 anos dos seus predecessores. Preocupados pela sua megalomania, os Estados Unidos e o Reino Unido destituíram-no em favor do Aiatolla Khomeiny.

Os Persas formaram vastos impérios federando os povos vizinhos mais do que conquistando os seus territórios. Comerciantes mais do que guerreiros, eles impuseram a sua língua durante um milénio em toda a Ásia, ao longo das rotas chinesas da seda. O farsi, que apenas eles falam hoje em dia, tinha um estatuto comparável ao do inglês na actualidade. No século XVI, o seu soberano decidiu converter o povo ao xiismo a fim de o unificar conferindo-lhe uma identidade distinta no seio do mundo muçulmano. Este particularismo religioso serviu de base ao império safávida.

O Primeiro-Ministro Mohammad Mossadegh (à direita) dirigindo-se ao Conselho de Segurança da ONU.

No início do século XX, o país teve de fazer face aos apetites vorazes dos impérios britânico, otomano e russo. Por fim, no seguimento de uma terrível fome, deliberadamente provocada pelos Britânicos e tendo causado 6 milhões de mortos, Teerão perde o seu império enquanto Londres lhe impõe uma dinastia de opereta, as dos Pahlevi, em 1925, a fim de poder explorar os campos petrolíferos em seu exclusivo proveito. Em 1951, o Primeiro-Ministro Mohammad Mossadegh nacionaliza a Anglo-Persian Oil Company. Furiosos, o Reino Unido e os Estados Unidos conseguem derrubá-lo mantendo ao mesmo tempo a dinastia Pahlevi. Para conter os nacionalistas, eles transformam o regime numa terrível ditadura ao libertar das suas prisões um antigo General nazi, Fazlollah Zahedi e impondo-o como Primeiro-Ministro. Este criou uma polícia política, a SAVAK, cujos quadros são antigos oficiais da Gestapo (rede Stay-behind).

Em todo o caso, este episódio despertou a consciência do Terceiro Mundo para a exploração económica de que é vítima. Ao contrário do colonialismo francês de povoamento, o colonialismo britânico não é senão uma forma organizada de pilhagem. Antes dessa crise, as companhias petrolíferas britânicas não pagavam mais de 10% dos seus lucros às populações que exploravam. Se os Britânicos gritam por roubo durante a nacionalização, os Estados Unidos colocam-se ao lado de Mossadegh e propõem uma divisão de meio por meio. Sob impulso do Irão, este reequilíbrio irá prosseguir por todo o mundo ao longo do século XX.

Amigo de Frantz Fanon e de Jean-Paul Sartre, Ali Shariati reinterpretou o islão como uma ferramenta de libertação. Segundo ele, « Se tu não estás no campo de batalha, pouco importa que estejas na mesquita ou no bar ».

Progressivamente, surgem dois movimentos principais de oposição no seio da burguesia: primeiro os comunistas, apoiados pela União Soviética, depois os terceiro-mundistas, à volta do filósofo Ali Shariati. Mas é um clérigo, Rouhollah Khomeini, quem, sozinho, consegue acordar a arraia-miúda. Segundo ele, é uma coisa positiva lamentar o martírio do Profeta Hussein, mas é muito melhor seguir o seu exemplo e lutar contra a injustiça; um ensinamento que lhe valeu ser considerado como herético pelo resto do clero xiita. Após 14 anos de exílio no Iraque, ele instala-se em França onde impressiona inúmeros intelectuais de esquerda como Jean-Paul Sartre e Michel Foucault.

Os Ocidentais fizeram do Xá Reza Pahlevi o «policia do Médio-Oriente». Ele trata de esmagar os movimentos nacionalistas. Ele sonha em religar-se com o esplendor do passado do seu país, do qual celebra com um fausto hollywoodesco o 2.500º aniversário numa aldeia de tendas em Persépolis. Aquando do choque petrolífero de 1973, percebe o poderio de que dispõe. Pensa, então, restaurar um verdadeiro império e solicita a ajuda dos Saud. Estes informam imediatamente os Estados Unidos, os quais decidem eliminar o seu aliado Pahlevi, que se tornou demasiado ganancioso, e substituí-lo pelo velho Aiatola Khomeini (77 anos à época) que rodearão com os seus agentes. Mas, antes de mais, o MI6 abre caminho: os comunistas são postos na prisão, enquanto o Imã dos pobres, o Libanês Moussa Sadr, desaparece durante uma visita à Líbia e Ali Shariati é assassinado em Londres. Entretanto, os Ocidentais convidam o Xá doente a deixar por algumas semanas o seu país a fim de se fazer tratar.

No cemitério de Behesht-e Zahra, o Aiatolla Khomeiny interpela o exército, o qual convoca a libertar o país dos Anglo-Saxões. Assim, este que a CIA tomava por um pregador gagá é, na realidade, um tribuno que inflama as multidões e a todos dá a convicção que pode mudar o mundo.

A 1 de Fevereiro de 1979, o Aiatolla Khomeiny chega triunfalmente do exílio. Mal acaba de pisar o terminal do aeroporto de Teerão, dirige-se de helicóptero para o cemitério da cidade onde acabam de ser enterradas 600 pessoas massacradas durante uma manifestação contra o Xá. Para estupefacção geral ele pronuncia um discurso, não contra a monarquia, mais violentamente anti-imperialista. Ele apela ao exército para que não sirva mais os Ocidentais, mas, sim o povo iraniano. A mudança orquestrada do regime pelas potências coloniais acaba de se transformar instantaneamente em revolução.

Khomeini impõe um regime político estrangeiro ao Islão, o Velayat-e faqih, inspirado na República de Platão, de quem é um grande leitor: o governo será colocado sob a orientação de um sábio, neste caso ele mesmo. Ele afasta então, um a um, todos os políticos pró-Ocidentais. Washington reagiu organizando várias tentativas de Golpe de Estado militar, depois uma campanha de terrorismo por ex-comunistas, os Mujahedins do Povo. Por fim, contrata —via Kuwait— o Iraque do Presidente Saddam Hussein como força contra-revolucionária. Segue-se uma terrível guerra de uma dezena de anos durante a qual os Ocidentais apoiam cinicamente, ao mesmo tempo, os dois campos. Para se armar, o Irão não hesita em comprar armas dos EUA a Israel (é o «escândalo Irão-Contras»). Khomeini transforma a sociedade. Ele desenvolve entre o seu povo o culto dos mártires e um extraordinário senso de sacrifício. Quando o Iraque bombardeia os civis iranianos com mísseis ao acaso, ele interdita ao exército ripostar da mesma forma, afirmando que as armas de destruição maciça são contrárias à sua visão do Islão; o que prolonga ainda um pouco mais os combates.

Após um milhão de mortos, Saddam Hussein e Rouhollah Khomeini percebem que são joguetes dos Ocidentais. Concluem então uma paz. A guerra termina tal como começou, sem propósito. O velho sábio morre pouco depois, não sem ter designado o seu sucessor, o Aiatola Ali Khamenei. Os dezasseis anos seguintes são consagrados à reconstrução. O país está exangue e a revolução nada mais é do que um slogan sem conteúdo. Continua-se a gritar «Morte à América!» durante os sermões de sexta-feira, mas o «Grande Satã» e o «Regime sionista» tornaram-se parceiros privilegiados. Os Presidentes Hachemi Rafsanjani, depois Mohammad Khatami, organizam a economia em torno da receita petrolífera. A sociedade relaxa e as diferenças de rendimento aprofundam-se de novo.

Hachemi Rafsandjani vai tornar-se o homem mais rico do país, não pelo comércio de pistácios, mas pelo das armas com Israel. Assim que se torna Presidente da República islâmica, irá enviar os Guardas da Revolução para se baterem sob as ordens dos generais norte-americanos na Bósnia-Herzegovina.

Rafsandjani, que fez a sua fortuna com o tráfico de armas no «escândalo Irão-Contras», convence Khamenei a enviar Guardas da Revolução para se baterem na Bósnia-Herzegovina ao lado dos Sauditas e sob as ordens da OTAN. Khatami, esse, tece relações pessoais com o especulador George Soros.

(Continua…)

Tradução
Alva