Em Telavive, a polícia israelita continua a prender manifestantes durante os protestos das famílias dos reféns contra a política do Primeiro-Ministro Netanyahu.
John Mearsheimer, renomado Professor da Universidade de Chicago - anatematizado pelos multimédia (multimídia-br) controlados pelo “lobby israelita" [1] - proferiu uma conferência no CIS (Centro de Estudos Internacionais), na Austrália, em 15 de Maio passado [2], da qual resumiu o conteúdo durante a sua entrevista com o Juiz Napolitano [3].

Mearsheimer não precisa de se rodear de matracas de aluguer, ele é considerado por Tom Switzer, do CIS australiano, como o terceiro geopolítico mais importante dos Estados Unidos. Ele pertence à escola neo-realista de relações internacionais [4].
E, na sua fantástica dissertação, toma como ponto de referência a situação em Israel antes e depois do 7 de Outubro, quando eclodiu a guerra entre a guerrilha palestiniana sunita do Hamas e Israel, sob a direcção do Primeiro-Ministro Netanyahu.

Para além do genocídio, da limpeza étnica e do apartheid do Estado pária de Israel, a sua tese central, na altura da separação de águas, é que Israel está em graves dificuldades, porque o governo do Primeiro-Ministro Netanyahu não atingiu os dois objectivos que tinha anunciado : 1 ) vencer o Hamas e 2) libertar os reféns israelitas sequestrados pelo mesmo Hamas.

Mearsheimer cita a posição do recentemente empossado Sub-Secretário de Estado dos EUA, Kurt Campbell, que substituiu a Khazar [5] Vicky Nuland, humilhada pela derrota na Ucrânia, quando visava uma derrota estratégica da Rússia, cada vez mais difícil de alcançar, acompanhada por uma mudança de regime. Kurt Campbell duvida de uma vitória total de Israel no campo de batalha contra o Hamas [6]. Para lá da viciosa propaganda pró-israelita que vivenciamos na esmagadora maioria dos multimédia ocidentais, o grave problema de Israel com o Hamas ainda gangrenou com a guerrilha xiita libanesa mais sofisticada do Hezbollah, que possui um arsenal de 150. 000 mísseis (sic sic sic), e a guerrilha do Ansar Allah (os «seguidores de Deus») do Iémene, popularmente conhecida sob o nome de «Hutis», que acaba precisamente de lançar o seu primeiro míssil contra Israel.

Nesta óptica, Mearsheimer afirma que Israel é o grande perdedor do conflito em curso e que este Estado pária arrastou os Estados Unidos, mau grado seu próprio interesse, para uma derrota — certamente menos importante que a do seu indefectível aliado — que provocou um profundo mal-estar entre os seus aliados árabes (Egipto, Jordânia e as seis petromonarquias do Golfo Pérsico). Esta derrota beneficiou a Rússia, de regresso à região, e a espectacular nova entrada em cena da China, que estabeleceu excelentes relações com a Arábia Saudita e com o Irão. Na minha opinião, a derrota relativa dos Estados Unidos em Gaza é bem menor do que a que eles sofreram na Ucrânia e a bofetada que significa o recente efusivo abraço duplo do Presidente chinês Xi com o seu homólogo russo Putin [7]. O fracasso dos Estados Unidos na Ucrânia esboça os contornos da nova ordem mundial, enquanto a tomada por Israel dos Estados Unido como refém em Gaza a aprofunda.

A explicação de Mearsheimer sobre o triunfo relativo do Irão é simplesmente fascinante e repousa em três datas cruciais : começa com a de 1 de Abril, quando Israel bombardeou o consulado iraniano em Damasco sem avisar o seu mais próximo aliado, os Estados Unidos ; a de 14 de Abril, quando o Irão mostrou os seus músculos, lançando, com pré-aviso negociado com os Estados Unidos, via Omã, os seus mísseis e drones contra Israel, dos quais metade foram abatidos, segundo um arranjo tácito com os Estados Unidos ; e a de 19 de Abril, quando as tão temidas represálias de Israel consistiram no rugido de “ratos paridos por uma montanha” : já que elas não destruíram mais que um radar em Isfahan.

Mearsheimer diagnostica a razão pela qual Israel é o grande perdedor. Porque desapareceu a sua lendária dissuasão de domínio da escalada [8]. Mas ele não aborda a questão dos nove mísseis hipersónicos indetectáveis que atingiram duas bases aéreas israelitas na proximidade da central nuclear de Dimona, o que deu ao Irão a sua «dissuasão hipersónica», única na região [9] . Mearsheimer também não fala da posse por Israel de mais de 300 bombas nucleares clandestinas, o que pode dar lugar a uma situação de dissuasão mútua entre Israel e o Irão, podendo o Irão, em qualquer momento, começar a dotar-se de bombas nucleares.

Tradução
Alva
Fonte
La Jornada (México)

[1The Israel Lobby and U.S. Foreign Policy, John J. Mearsheimer & Stephen M. Walt, Penguin Books (2008).

[3«Prof. John Mearsheimer : Donor Class vs. the First Amendment», YouTube, Juge Napolitano, 18 mai 2024.

[4«Biography: John J. Mearsheimer», André Munro, Britannica, May 6, 2024.

[6«Israel’s ‘total victory’ in Gaza is unlikely, top US official says», Matt Berg & Alexander Ward, Politico, May 13, 2024.

[7Putin en Beijing: ¡Segundo Encuentro en 7 meses!, Alfredo Jalife, Radar Geopolítico, YouTube, 16 de mayo de 2024.

[8«Escalation Dominance in America’s Oldest New Nuclear Strategy», Aaron Miles, War on the rocks, 12 september 2018.

[9Os mísseis hipersónicos iranianos instauram a dissuasão pelo terror, segundo Scott Ritter”, Alfredo Jalife-Rahme , Tradução Alva, La Jornada (México) , Rede Voltaire, 22 de Abril de 2024.