Dia 3, em Caracas, diante de vários microfones e câmaras de televisão, o presidente da Junta Nacional Eleitoral (JNE) da Venezuela, Jorge Rodríguez, anunciou o que classificou de “cifras ainda não definitivas, mas que marcam uma tendência conclusiva”: 2.451.871 assinaturas apuradas respaldavam a convocação do referendo revogatório do mandato presidencial de Hugo Chávez. Chegava ao fim uma disputa de seis meses, que envolveu a primeira coleta de assinaturas, no início de dezembro de 2003, e nova chamada, entre 28 e 30 de maio. A oposição venezuelana obteve o número mínimo de assinaturas - 20% do total do eleitorado nacional - para a convocação da consulta popular.
Na primeira coleta de assinaturas, em 2003, a oposição alegou ter coletado cerca de 3,4 milhões de firmas, supostamente ultrapassando em 800 mil o número mínimo exigido, de 2,6 milhões de eleitores. No entanto, após meses de exame, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) constatou irregularidades em aproximadamente 1,8 milhão de assinaturas. O novo processo foi convocado, para confirmação de presença.
A oposição suou a camisa para obter a adesão de um quinto da população. Contudo, tenta alardear uma desaprovação ao governo. Dia 2, o editorial do jornal El Nacional, um dos principais apoiadores do golpe de Estado de 2002, chegou a dizer que “o regime cessou de governar e permanece solitário em sua desguarnecida trincheira, de onde só sairá para se entregar”.
Aritmética e Política
O processo foi marcado por denúncias de irregularidades. Dia 31 de maio, Francisco Carrasqueiro, presidente do CNE, em reunião com observadores internacionais, ressaltou que “cerca de 25 mil cédulas de identidades apresentadas nas mesas de votação são falsas, pois as fotos não coincidem com os nomes e esses estão em desacordo com os números”. Alguns centros de clonagem de cédulas foram descobertos pela polícia e o CNE constatou que 7 mil mortos “compareceram” aos locais de assinatura.
“Mas não vale a pena fazer desta uma batalha meramente aritmética”, assinala Luís Lander, professor de estatística e pesquisador da Universidade Central da Venezuela. Para ele, reduzir a luta política a números corresponde a aceitar o jogo da oposição. “O que significam 20% dos votos, diante das realizações desses últimos anos, da recuperação econômica, do crescente apoio popular?”, pergunta. Na mesma direção segue o vice-presidente da República, José Vicente Rangel. Em discurso na abertura da 3ª Cúpula da Dívida Social e pela Integração Latino-Americana, realizada no teatro Tereza Carreño, dia 2, disse: “A decisão não está na coleta de assinaturas, mas no referendo. Os que hoje se aferram a ele são os mesmos que não o queriam na Constituição”.
O governo conta com uma inequívoca carta na manga: a recuperação econômica dos últimos meses, lastreada no aumento do preço do petróleo, cujo barril ultrapassou a marca de 42 dólares. Segundo o ministro do Planejamento Jorge Giordani, o PIB venezuelano, que caiu 27,8% no primeiro semestre de 2003 por causa do locaute petroleiro, subiu 29,8% no primeiro trimestre de 2004. Ou seja, a atividade econômica interrompida há um ano foi retomada e a produção petroleira segue ao redor de 3,1 milhões de barris ao dia. O desemprego, que no final do ano bateu a escandalosa marca de 27,8% da população economicamente ativa, caiu agora para 21,8%. E a inflação conhece um ritmo descendente nos últimos meses.
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