“Não há volta! Esse processo que vivemos na Venezuela irá se aprofundar! É uma revolução, uma mudança estrutural!” Assim o presidente venezuelano, Hugo Chávez, iniciou uma longa coletiva de imprensa no salão Ayacucho, Palácio de Miraflores, na noite do dia 16. Ele sabe que o referendo o deixou mais forte que nunca: “Domingo não se ratificou Chávez, não se ratificou um governo. Ratificou-se um projeto, um conceito e um novo desenho econômico e social”.
Para onde aponta tal modelo? “Para uma alternativa ao neoliberalismo e a falsa noção de democracia liberal”, diz, sem hesitar. O líder venezuelano destaca a virada que representa o 15 de agosto. Venceu 8 eleições, um golpe de Estado e uma paralisação petroleira em quase seis anos de mandato. Só foi derrotado em dois Estados no referendo.
Nas televisões, a oposição continua denunciando a suposta fraude. Eleva o tom, repete argumentos, exige uma recontagem da totalidade dos mais de 8 milhões de votos válidos. Chávez não se abala. Lembra-se de ter convidado a Coordenadoria Democrática para um almoço dia 16: “Sabem o que aconteceu? A comida está lá, esfriando em cima da mesa. O problema é que resistem ao entendimento, ao diálogo”, diz. E logo cita uma frase do ex-presidente Jimmy Carter, em entrevista coletiva horas antes: “O diretor do Centro Carter afirmou que mesmo os números deles coincidem com os resultados oficiais”.
Se o referendo venezuelano pudesse ser reduzido a poucos personagens centrais, o principal deles seria Chávez. Possivelmente, o segundo seria Jimmy Carter, que sacramentou a soma final. A insatisfação da oposição com o comportamento do líder estadunidense é evidente. Nos episódios anteriores, durante a coleta de assinaturas, Carter era uma espécie de tábua de salvação para os argumentos oposicionistas. Os mais de cem outros observadores internacionais eram menosprezados pela imprensa e por líderes da Coordenação Democrática, como Timoteo Zambrano. Dia 16, tudo mudou e Carter foi ignorado por quase todos.
A tacada final
Chávez brinca e faz o gesto de alguém que dá uma tacada numa bola de beisebol, o esporte nacional: “Rebatemos a bola. Fidel a viu passar de binóculo. Sabem onde ela foi cair? Nos jardins da Casa Branca”. Gargalhadas gerais. Ele volta a ficar sério: “E os mercados? O preço do petróleo caiu e a Venezuela garante o abastecimento ao mundo”. Afirma não querer o óleo a 50 dólares o barril, mas tampouco o combustível abaixo de 10 dólares.
Chávez bem sabe que o impacto dos resultados de 15 de agosto ultrapassam de longe as fronteiras venezuelanas. Olhado inicialmente com desconfiança, mesmo entre a esquerda internacional, o país aparece agora como uma espécie de posto avançado para os que se batem contra a chamada globalização neoliberal. Não é à-toa que nas últimas semanas centenas de ativistas de todo o mundo (dezenas do Brasil) aportaram nas terras de Simon Bolívar.
Longe de ser modelo para alguma coisa, o processo venezuelano parece tirar as perspectivas de mudança social do pedestal das utopias inatingíveis. Chávez sente isso e refere-se sempre às lutas políticas históricas em seus discursos. Mas segue pragmático, com os pés bem fincados no chão: “Estamos obrigados a trabalhar o dobro do que nos últimos seis anos. Nossa jornada está longe de acabar”.
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