Thierry Meyssan prossegue a sua narração da guerra que opõe Washington e os seus aliados ao resto do mundo. O Egipto entrou no conflito. Israel atacou a Síria. A Turquia mantêm as suas tropas no Iraque, apesar da queixa de Bagdade. Entretanto, dirigi-mo-nos para um quinto veto russo-chinês no Conselho de Segurança contra a iniciativa francesa.
O ministro russo da Defesa, Sergei Shoigu, traçou um balanço da acção das forças armadas da Rússia na Síria. Num ano, declarou ele, «elas libertaram 586 localidades e mais de 12.000 quilómetros quadrados de território, eliminaram cerca de 35. 000 terroristas, dos quais mais de 2.700 pessoas oriundas da Rússia e de países da CEI». Ele confrontou estes resultados aos dos Estados Unidos que, enquanto declaravam combater os terroristas, na realidade, os apoiam contra a República Árabe Síria.
A Duma aprovou por unanimidade o acordo russo-sírio autorizando a instalação por tempo indeterminado da aviação russa na base síria de Hmeimim. Este texto tinha sido firmado em segredo em Agosto de 2015 e só foi apresentado à Duma afim de tornar pública a posição russa. A Duma precisou que a presença militar russa no Levante é indispensável na luta contra o terrorismo.
Simultaneamente iniciaram-se os maiores exercícios militares russo-egípcios desde a época de Gamal Abdel Nasser. O Estado-maior russo indicou que estas manobras iriam permitir coordenar os dois exércitos na sua luta contra os jiadistas, nomeadamente no deserto. Ao fazê-lo a Rússia oficializou a sua implementação militar no país, para além da Síria e do Iémene (mesmo se a presença no Iémene é de momento apenas oficiosa).
Vários generais norte-americanos relevaram que a situação nunca foi tão má desde a guerra na Coreia. Segundo eles, um enfrentamento entre os Estados Unidos e a Rússia seria breve, mas numa escala jamais igualada na História. O General Mark A. Milley, chefe do Estado-maior de terra, afirmou que as duas Marinhas e Forças Aéreas se neutralizariam e que os combates mais duros teriam lugar no solo. O embaixador Charles W. Freeman Jr. advertiu contra uma passagem à acção quando os Estados Unidos e a Rússia conseguiram até agora evitar uma guerra nuclear.
O PKK, quer dizer os Curdos turcos, aproveitaram a situação para retornar Jarablus, no Norte da Síria. Enquanto a Turquia denunciou a queixa Iraquiana contra si. Ancara recusa retirar os seus soldados do território iraquiano e argumenta que apenas a presença de seus soldados era contestada por Bagdade, quando uma trintena de Estados se instalaram no país.
Acima de tudo, considerando que Washington e Moscovo estavam muito ocupados com o seu confronto para intervir, o exército israelita atacou a área adjacente ao planalto do Golã ocupado.
Telavive expulsou, em Agosto de 2014, os capacetes azuis da Força das Nações Unidas encarregues de manter a zona desmilitarizada (UNDOF) e substituiu-os pelos jiadistas da Al-Qaida. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu fez-se fotografar com alguns dos 500 jiadistas tratados no Ziv Medical Center. Ele declarou em Junho de 2016 que nunca restituiria os Golã ao seu proprietário sírio. Considerando que era demais, os Estados Unidos e a Rússia acordaram em redigir um projecto de resolução exortando Israel a cessar o seu apoio aos terroristas e deixar a ONU retomar a sua missão. A resolução devia ter sido apresentada em Agosto, mas, este projecto acabou por não sobreviver à deterioração das relações entre Moscovo e Washington.
A artilharia israelita bombardeou toda tarde, assim como a aviação, que disparou sobre o território sírio a partir do espaço aéreo israelita. Os jiadistas tem operado sob o seu apoio.
No caso de Israel e os jiadistas conseguirem abrir um corredor entre a zona desmilitarizada síria e as quintas de Shebaa libanesas, seria possível estender a guerra ao sul do Líbano. As populações druzas, fieis ao Príncipe Talal Arslan e à República Árabe Síria, e não a Walid Jumblatt, são susceptíveis de ser exterminadas pelos jiadistas.
No plano diplomático, os Estados Unidos pediram a abertura de uma investigação sobre a ofensiva síria-russa contra os jiadistas em Alepo-Leste por «crimes de guerra». O representante do Secretário-geral para a Síria, Steffan de Mistura, propôs-se garantir a salvaguarda dos combatentes se eles decidirem deixar a Alepo-Leste para Idlib, e interromper assim a batalha para salvar os civis. Mas este compromisso (inspirado pelo director dos Assuntos políticos da ONU, Jeffrey Feltman, em nome de Washington) foi rejeitado pela França.
Após consulta com Israel, Paris decidiu não se integrar as emendas que o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean-Marc Ayrault, tinha negociado com o seu homólogo russo, Sergey Lavrov, e manter o seu projecto no sábado perante o Conselho de Segurança. Ayrault irá pessoalmente a Nova Iorque para defender o seu texto.
O projecto francês prevê interditar qualquer bombardeamento em Alepo-Leste, seja por artilharia ou aviação, e proibir qualquer sobrevôo da cidade por aeronaves militares. A Rússia confirmou imediatamente que ela lhe oporia o seu veto. Ignora-se ainda a posição chinesa, mas pode acontecer amanhã ao quinto veto conjunto de Moscovo e Pequim sobre as iniciativas da OTAN em relação à Síria. A Síria irá tornar-se então no principal ponto de fricção internacional desde a Segunda Guerra mundial. Este impasse poderá pôr em causa o futuro das Nações Unidas.
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